Cuidados naturais paralelos ao doente oncológico

Cuidados naturais aos doentes de cancro (cancer).

Os tratamentos oncológicos podem ser tão difíceis quanto necessários. Na tentativa de atenuar os efeitos secundários de um tratamento tão exigente, existem algumas ajudas naturais que podem facilitar a vida ao paciente.

O cancro é violência. É palavra que assusta, por tudo aquilo que significa. Quem recebe um diagnóstico sabe que o risco está presente. Que há uma batalha pela frente que pode ser perdida. Será difícil. E vai ser preciso, no mínimo, o melhor de nós para o vencer.

Aos poucos a ciência e a medicina têm encontrado respostas positivas no tratamento do cancro, mas nada disto acontece sem esforço. Tratamentos oncológicos como a radioterapia ou a quimioterapia são disso exemplo. Podem ser o tal fator de diferença que vai salvar uma vida. Mas podem ser também particularmente agressivos para um paciente.

Preservar o estado emocional e psicológico de uma pessoa nesta fase pode ser crucial. Uma pessoa que se sinta acompanhada sente-se mais capaz. Não há luta que se possa travar contra o cancro sem uma robusta carapaça de esperança. Mas existem também opções entre as terapias complementares que podem ajudar neste processo. Falamos, entenda-se, de “ajudas” naturais que não substituem nem põem em causa o tratamento oncológico. Antes facilitam a sua eficácia, atenuando alguns dos violentos efeitos secundários.

 

O impacto de um tratamento oncológico agressivo!

Há muito que sabemos que as radiações são nocivas para as células humanas. A radioterapia foi a forma que a ciência encontrou de tornar algo potencialmente nocivo em algo positivo. A radioterapia procura, de maneira controlada, matar as células cancerígenas. A radiação ionizante que é utilizada possui a capacidade de penetrar nas células, alterando o seu crescimento e capacidade de multiplicação. Trata-se de uma terapia que afeta tanto as células boas (normais) como as más (cancerosas). Mas só as células normais mantém a sua capacidade de recuperar.

Os cancros que se localizam em órgãos sólidos (como o cérebro, a mama, o útero, entre outros) são os que têm possibilidade de tratamento com recurso a radioterapia. Mas apesar de as células “boas” poderem recuperar, quem passa pelo processo está sujeito a efeitos secundários.

O cansaço e o desgaste físico vão chegando e ficando, com o avançar do tratamento. É também comum que a pele, na zona tratada, se torne vermelha, seca, sensível e se sinta alguma comichão. Estes problemas desaparecerão com o tempo. Mas é importante expor essa zona ao ar, tanto quanto possível, para ajudar a pele a sarar.

Tal como a radiação, a quimioterapia afeta tanto as células normais como as cancerígenas. Os efeitos secundários irão depender dos fármacos e doses utilizadas. Ainda assim, o cansaço e a sensação de fraqueza vão surgir durante o tratamento. O cabelo e os pelos do corpo acabarão por cair (um efeito reversível após o fim do tratamento). Mais frágil, o corpo fica também mais sujeito a infeções e “nódoas negras”. O período menstrual pode ser desregulado e a infertilidade nalguns casos (em particular mulheres acima dos 35 anos) é um risco.

Mas o impacto físico ou efeitos secundários durante o tratamento de quimioterapia sente-se facilmente na falta de apetite, em náuseas e vómitos, diarreia e feridas na boca e/ou lábios. O desconforto é notório. E é importante nesta fase em que o tratamento oncológico decorre, recordar a importância do bem-estar do paciente. O apoio psicológico aos doentes oncológicos é uma questão completamente essencial. Mas, nestes casos, a esperança também deve algo ao conforto.

O contributo das terapias complementares nos tratamentos oncológicos.

André Dourado é especialista em naturopatia, uma terapia complementar que, a par de promover cuidados com a alimentação e a atividade física, procura dar-nos soluções que existem na natureza, mas que por vezes descuramos. Falamos de uma terapia complementar que congrega conhecimentos de fitoterapia, homeopatia e nutrição e que procura dar soluções orientadas para a pessoa.

O naturopata realça que “sentirmo-nos bem física e mentalmente é crucial para vencermos qualquer obstáculo na nossa vida e este é dos mais importantes que alguém pode ter de enfrentar”. No caso de pessoas que o procuram enquanto estão a levar a cabo tratamentos oncológicos como a radioterapia e a quimioterapia, as principais queixas são sobre “alterações intestinais, náuseas e vómitos, feridas na boca, perda de saliva, queimaduras, feridas nas mãos e pés, dores neurológicas, diminuição das defesas e anemia”.

André Dourado explica-nos que a naturopatia, “recorrendo à nutrição terapêutica, aumenta a proteção das células saudáveis e ajuda a tratar as principais queixas”. Mas tratando-se de um paciente oncológico isto implica cuidado nas escolhas. O açafrão-das-índias, por exemplo, “é um excelente anti-tumoral e anti-inflamatório mas pode diminuir a eficácia do agente quimioterapêutico, não se devendo usar em grandes doses durante este período”, alerta o naturopata.

Cláudia Sousa, especialista em medicina tradicional chinesa, já recebeu também alguns pacientes em tratamento oncológico no seu consultório. As queixas são sensivelmente as mesmas e o que procuram também: uma ajuda extra, natural, que os ajude durante o combate pela vida que enfrenta.

Cláudia Sousa realça que as terapias complementares também podem ter uma palavra a dizer nas fases em que o tratamento é particularmente mais desgastante para o paciente. “As medicinas complementares fazem isso mesmo, complementar a terapia convencional, aumentando a qualidade de vida do paciente”, diz-nos.

No caso da sua área de especialidade, – a medicina tradicional chinesa, a acupuntura é sem dúvida a técnica mais conhecida. A acupuntura tem sido estudada pelo seu contributo no alívio da dor. Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association envolvendo 104 mulheres constatou que pode, inclusive, melhorar os efeitos de medicamentos contra náuseas e vómitos – talvez a principal queixa de quem atravessa uma quimioterapia.

Mas a medicina tradicional chinesa inclui ainda “técnicas como o qigong, o tuina, a fitoterapia [focada no estudo da plantas e uma das influências da naturopatia] e a alteração da dietética, que podem ajudar imenso um paciente”, adianta Cláudia Sousa.

O qigong, explica-nos a especialista, é um conjunto de “exercícios” que englobam movimentos controlados do corpo coordenados com a respiração, num estado de concentração. O seu objetivo é “atuar a nível do estado depressivo destes pacientes, ajudando-os a gerir emoções”. A tuina, por outro lado, é utilizada como complemento da acupuntura em alterações musculoesqueléticas, esclarece ainda Cláudia Sousa.

 

Uma massagem oncológica

Como vimos, o corpo é particularmente punido durante os tratamentos oncológicos. Nuno Duarte, fisioterapeuta no Instituto Português de Oncologia, explica-nos que muitas das técnicas de massagens são desaconselhadas em certos contextos oncológicos – existe o risco de com a intenção de se querer dar maior conforto ao paciente, se poder estar a estimular células que ajudarão a multiplicar metástases. Mas existe uma solução.

A radioterapia e a quimioterapia podem ser agressivas para as estruturas linfáticas. Mas com o devido cuidado e conhecimento anatómico do especialista, é possível desfrutar do toque suave e relaxante de uma massagem. Para estes casos, esclarece o fisioterapeuta, “a drenagem linfática manual pode ser realizada como prevenção ou com o objetivo de minimizar uma possível complicação”.

 

A ajuda de uma boa nutrição durante os tratamentos oncológicos!

A nutrição é uma das áreas que pode fazer a diferença durante tratamentos tão intensivos. Existem conselhos muito diretos. O norte-americano National Cancer Institute, por exemplo, sugere que o gengibre pode ajudar a controlar as náuseas e vómitos. Mas acima de tudo existe a possibilidade adotar um regime mais direcionado para as necessidades específicas do paciente.

O naturopata André Dourado Diz-nos que muitos pacientes o procuram no sentido de saberem o que fazer para, “ou não engordarem, ou recuperarem o peso ideal”. Outra das preocupações é precisamente saber o que devem comer, diz-nos ainda.

As náuseas não só deixam a pessoa a sentir-se mal como podem arruinar o apetite. O desafio é difícil, sabemo-lo. No entanto, uma boa nutrição é fundamental numa luta tão exigente. Da mesma maneira, embora o descanso seja importante, convém não cair no erro de se ficar completamente inativo.

Neste aspeto, o próprio oncologista pode aconselhar sobre o que se deve evitar. Sugerimos uma regra muito simples de aplicar: evite esforços desnecessários. E delegue tarefas sem remorsos. Uma batalha assim deve ser travada na companhia de familiares e amigos. Não se trata apenas de utilidade. É uma questão de bem-estar. Para que a luta não tenha de ser ainda mais difícil do que aquilo que já é.

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