Já fez o seu plano de parto?

Qualquer grávida idealiza o momento do parto dezenas de vezes, imagina como será, como gostaria que fosse, sabe dizer como preferia que acontecessem de certas coisas e indicar outras que preferia de evitar.

Em termos simples, o plano de parto não é mais do que uma de forma estruturada de expressar esses desejos, mas para tomar alguma decisões é essencial estar bem informada!

O plano de parto ou de nascimento é um documento que, além de ajudar a gestante a pensar de forma mais concreta nas suas preferências, a “obriga” a ficar informada sobre as várias fases do trabalho de parto, sobre algumas técnicas utilizadas, e sobre os procedimentos de rotina. Só assim pode ter dúvidas, colocar questões, e por fim, fazer as suas próprias opções, comunicando-as à equipa que a assistirá na hora do nascimento através deste documento.

Como o plano de parto surgiu como uma resposta à crescente medicalização e instrumentalização do parto, criou-se a ideia (pelo menos por cá) de que é um recurso utilizado, sobretudo, pelos mais “naturalistas” ou adeptos de pouca intervenção médica. No entanto, como aclara Isabel Ferreira, enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstetrícia da Gimnogravida, “o plano de parto é uma via de comunicação entre o casal e os profissionais de saúde, sendo, portanto, útil independentemente das escolhas do casal por um parto mais ou menos medicalizado.”

 

Grávidas informadas tomam melhores decisões

Será que a maioria das grávidas sabe quais são as implicações, tanto os prós como os contras, de uma rutura artificial da bolsa de águas e de uma indução do trabalho de parto? Estas são duas práticas comuns, no entanto, fazem parte das listas da Organização Mundial de Saúde (OMS) que as classificam, respetivamente, como condutas frequentemente utilizadas de forma inapropriada e prejudiciais ou ineficazes.

Práticas hospitalares tão banais como o uso rotineiro de clister e tricotomia (raspagem dos pelos púbicos) intraparto, infusão intravenosa por rotina e o uso habitual da posição supina (barriga para cima) durante o trabalho de parto fazem parte desta lista de condutas que a OMS recomenda que sejam eliminadas por rotina em situações de um parto normal – o que como é óbvio, não invalida que haja muitas situações nas quais estão medicamente indicadas.

Isabel Ferreira defende que “um profissional que orienta a mãe para a realização do seu plano de parto, deverá informá-la devidamente sobre todos os recursos que tem ao seu dispor, assim como as suas opções e respetivos prós e contras, sempre com base na evidência científica.” Aliás, a enfermeira defende mesmo que todas estas questões deveriam ser discutidas com a grávida, independentemente desta pretender ou não realizar um plano de parto.

E será esta a realidade portuguesa? Isabel Ferreira afirma que “ao contrário do que seria desejável e do que é a vontade da maioria dos casais portugueses, (…)predomina ainda, de um modo geral, o modelo biomédico, paternalista, em que os profissionais de saúde tendem a orientar a grávida/casal de acordo com o que os profissionais acham que é melhor.”

Estas foram de resto as conclusões a que chegou na sua tese demestrado, em 2012, intitulada Empowerment na gravidez: preferência e valorização dos casais pelos cuidados de saúde pré-natais. A enfermeira sustenta que o que “seria desejável era substituir este modelo de cuidados por modelos de empowerment, centrados na grávida/casal e não nos profissionais, incluindo a parceria na tomada de decisão e incentivando uma participação ativa na elaboração do plano terapêutico – obviamente mediante informação clara, precisa e cientificamente válida.”

Há, no entanto, sinais de clara abertura às adeptas do parto mais natural: na Maternidade Alfredo da Costa, por exemplo, deixou de ser administrado soro por rotina em partos de baixo risco, é permitida a ingestão de líquidos, a percentagem de episiotomias realizadas diminuiu e a unidade conta com uma cadeira de partos que permite à mulher ter o bebé na posição que preferir, ou seja, o parto é “desmedicalizado” sempre que possível, de acordo com declarações à impresa dos responsáveis.

Independentemente de haver decisões médicas que, naturalmente, só um médico pode tomar na presença de uma situação concreta, cabe à mulher estar informada sobre aquelas que são consideradas as melhores práticas e assumir-se como protagonista no nascimento do seu bebé, tomando, sempre que possível, as suas próprias opções.

 

Parto: um mundo de opções

De repente, pode não parecer, mas há muitas decisões a tomar quanto ao parto, nascimento e primeiros momentos do bebé. O espaço, os acompanhantes, o ambiente no quarto, a realização ou não de procedimentos pós-parto como enema e raspagem de pelo, a forma como é feita a apreciação do bem-estar fetal, o método ou métodos para alívio da dor, a mobilidade e posição durante a dilatação, quem cortará o cordão umbilical do bebé e ainda, algumas decisões relativas à amamentação e alimentação do bebé, entre outras.

Para elaborar o seu plano de parto, o site da Associação Portuguesa dos Enfermeiros Obstetras é um dos sítios, entre muitos, onde pode encontrar um modelo de plano de parto, que pode ver AQUI

Dependendo as maternidades ou hospitais, o plano de parto pode se enviado por e-mail, por carta ou entregue na altura da admissão da grávida em trabalho de parto.

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