Neurofeedback: que é? Como funciona? Para que serve?

O biofeedback permite a uma pessoa estar ativamente envolvida no controlo dos seus próprios processos fisiológicos e emocionais.

Primeiro com equipamento que mede a atividade fisiológica (p.e. ritmo cardíaco; sudação) e, mais tarde, já sem a necessidade de recurso a esse equipamento.

A Association for Applied Psychophisiology and Biofeedback e a International Society for Neurofeedback and Research definem o biofeedback como “um processo que possibilita a um indivíduo aprender como alterar a atividade fisiológica com o objetivo de melhorar a saúde e o desempenho”.

No decurso de estudos pioneiros, particularmente dirigidos ao treino de ondas cerebrais com o intuito de aumentar o relaxamento, bem como, de controlar a epilepsia, nas décadas de 60 e 70 constatou-se que, por meio de reforço positivo, era possível modificar os padrões das ondas cerebrais, atingindo-se e mantendo-se estados cerebrais desejáveis. Nesse sentido, o Neurofeeback (NFB) constituiu-se como uma variante do biofeedback, possibilitando às pessoas monitorizar e alterar os seus padrões de ondas cerebrais, o que conduz a mudanças emocionais, cognitivas e comportamentais.

As ondas cerebrais podem ser claramente identificadas em Eletroencefalograma (EEG), sob diferentes comprimentos, formas, amplitudes e frequências, sendo umas rápidas e outras bastante lentas. A sua medição é feita em ciclos por segundo (cps) ou hertz (Hz). Classicamente, os tipos de ondas cerebrais existentes são: delta, teta, alfa, beta e gama.

As ondas delta (0.5-4 Hz) são muito lentas, apresentam uma grande amplitude e são o tipo de ondas predominante em estados de sono profundo e reparador. As ondas delta estão associadas, por exemplo, a traumas psíquicos e a défices de aprendizagem.

A atividade das ondas teta (4-8 Hz) associa-se, em geral, a estados de devaneio, fantasia ou confusão. As de cariz mais lento proporcionam estados de elevado relaxamento, representando o limiar entre a vigília e o sono. A título de exemplo, pessoas distraídas ou desatentas a estímulos externos apresentam, por norma, mais ondas teta.

As ondas alfa (8-12 Hz) são mais rápidas que as anteriores, encontrando-se geralmente associadas a estados de relaxamento. A atividade das ondas alfa mais lentas representa, em larga medida, um estado de preparação para a ação, assim que tal se revele necessário.

As ondas beta (13-30Hz) são pequenas e relativamente rápidas, sendo responsáveis por estados de atividade mental e intelectual, bem como, de atenção, concentração e foco. A atividade no limite inferior de frequências destas ondas (ondas SMR; 12-15Hz) está relacionada, por exemplo, com calma, controlo da impulsividade e consciência corporal. Por outro lado, o limite superior (ondas HiBeta; 20-30 Hz) é mais prevalente em estados de hiperatividade, tensão corporal, ansiedade e stress.

As ondas gama (>30Hz), por seu turno, são as ondas cerebrais mais rápidas. Ainda que, para este tipo de ondas, subsista alguma necessidade de estudo e exploração, sabe-se hoje que alguma da sua atividade aponta para uma intensa atenção focalizada, bem como, para o apoio do cérebro na coleção e processamento da informação proveniente de diferentes áreas cerebrais.

A avaliação prévia ao início do NFB é fundamental para o sucesso do processo. Assim, torna-se essencial a condução de uma entrevista clínica completa, bem como, a aplicação de testes de avaliação neuropsicológica e/ou psicopatológica. Em paralelo, é crucial a realização de um EEG Quantitativo (EEGQ), uma vez que o mesmo determina se os padrões de ondas cerebrais são normativos, demasiado rápidos ou demasiado lentos, simétricos ou assimétricos, ou clinicamente significativos, refletindo possíveis perturbações.

Por via da avaliação, torna-se possível o planeamento e a adaptação do programa de intervenção às necessidades específicas de cada indivíduo, contribuindo-se, desse modo, para o aumento da eficácia do NFB.

Durante uma sessão típica, após uma explicação clara sobre o modo de funcionamento do NFB e sobre os aspetos importantes para o sucesso da intervenção, um ou mais elétrodos são colocados no couro cabeludo, podendo ser posicionados, em simultâneo, um ou dois elétrodos nos lobos das orelhas.

Os elétrodos utilizados servem para medir os padrões de atividade elétrica proveniente do cérebro, do mesmo modo que um médico ausculta o coração a partir da superfície da pele. Importa, pois, salientar que todo o procedimento em causa é não invasivo, na medida em que não existe qualquer indução de corrente elétrica no cérebro.

Seguidamente, através de equipamento altamente sofisticado, o indivíduo recebe feedback auditivo e/ou visual da sua atividade cerebral (p.e. filme que apenas funciona corretamente quando se atingem os objetivos definidos para o treino; ou jogo, com níveis, em que os mesmos só são ultrapassados quando o cérebro atinge os padrões de funcionamento definidos para cada treino específico). Dessa forma, a atividade elétrica do cérebro é transmitida e registada em computador.

À medida que o indivíduo observa o desempenho correspondente às suas ondas cerebrais num monitor de computador, apenas alguns milésimos de segundo após a sua ocorrência, torna-se possível influenciá-las e, até mesmo, alterá-las de forma gradual, por meio de um processo de aprendizagem por feedback e reforço. Através da prática continuada de NFB, torna-se possível observar mudanças consistentes e duradoras para padrões de ondas cerebrais mais saudáveis e adaptativos.

Para além de vários estudos terem constatado que nenhuma medicação atingiu, até ao presente, taxas de eficácia sequer semelhantes às dos placebos, situadas nos 35 a 40%, a maioria da investigação sugere taxas de eficácia entre os 70 e os 80% para o NFB. Estes resultados permitem, em muitos casos, reduzir a necessidade de utilização de medicação psicoativa. Assim, o NFB parece ser eficaz, não enquanto prática isolada, mas antes em complementaridade com a psicoterapia e com outras formas de biofeedback, tanto em questões de psicopatologia e de perturbações físicas e do desenvolvimento, como para o aprimoramento educacional e do desempenho.

Em termos concretos, diferentes estudos têm vindo a comprovar a eficácia desta intervenção em questões como: hiperatividade com défice de atenção; perturbações do espetro do autismo/ síndrome de Asperger; perturbações do desenvolvimento; dificuldades de aprendizagem; dependências; e epilepsia.

A sua aplicação tem-se estendido, igualmente, com níveis de eficácia muito promissores, a áreas como: dor crónica; perturbação de stress pós-traumático; perturbações do sono; dificuldade no controlo dos impulsos; fobia social; depressão; ansiedade; fibromialgia; paralisia cerebral; declínio cognitivo/demências; e aprimoramento cognitivo e da memória. Por fim, o NFB pode, ainda, proporcionar interessantes melhorias em pessoas saudáveis, nomeadamente no que diz respeito ao desempenho desportivo, cognitivo e artístico.

Aumentando as competências atencionais, promovendo o bem-estar físico e psicológico, assim como a inteligência emocional e a auto-eficácia, o NFB constitui, hoje, uma ferramenta de prevenção e de intervenção de elevado valor, enriquecendo o leque de respostas clínicas e educacionais e assumindo-se como uma nova e válida alternativa para muitos clínicos, doentes e pessoas em geral.

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