Como vai a sua Inteligência Emocional?

Já reparou que algumas pessoas perdem as estribeiras à primeira contrariedade e, outras, mesmo em situações de grande stress conseguem manter a lucidez e diplomacia?

Este é um dos muitos exemplos que podem indicar a inteligência emocional de cada um – uma capacidade cada vez mais valorizada e que acabou, de vez, com o reinado do quociente de inteligência (QI).

A teorização da inteligência emocional (IE) e a explosão de interesse pelo conceito, no fundo, veio dar resposta a uma coisa que todos sempre percebemos de forma muito intuitiva: que algumas pessoas primam pela inteligência – no sentido agora antigo e datado do termo, entenda-se – mas faltam-lhe outras capacidades essenciais.

Ou porque fervem em pouca água, ou porque são intransigentes e não se sabem relacionar com os outros, ou porque não conseguem ver além do seu próprio umbigo, ou porque se vão imediatamente abaixo sob pressão. Ou todas as anteriores juntas. E sabemos que não são estas as pessoas com as quais queremos ter uma relação – seja de trabalho seja de qualquer outro tipo.

Embora não tenha sido o primeiro a falar sobre inteligência emocional, Daniel Goleman é “O” guru nesta matéria tendo sido, em parte, o grande responsável pela notoriedade que o conceito começou a ter na década de 1990, ao lançar, em 1995, o best-seller “Inteligência Emocional”.

Goleman definiu a inteligência emocional como “a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.” Uma capacidade que, segundo o autor, pode ser subdivida em cinco aptidões concretas: o autoconhecimento emocional, o controle emocional, a automotivação, o reconhecimento de emoções das outras pessoas e a habilidade em relacionamentos interpessoais.

Inteligência emocional

Inteligência emocional na prática

Ana Correia de Almeida, doutoranda em psicologia e educação, investigadora e formadora na área das competências sociais e emocionais explica-nos que, no global, os autores coincidem num conjunto de ideias que servem para definir uma pessoa com um alto quociente emocional (QE): alguém que tem autoconsciência das suas emoções, tem facilidade em identificar estados emocionais nos outros, demonstra aptidão para gerir as suas próprias emoções e adaptar o seu comportamento ao estado emocional dos que o rodeiam.

Alguém com inteligência emocional “controla os seus impulsos, tem flexibilidade face às condições adversas, aproveita as oportunidades, é otimista, tem capacidade de persuasão, consegue orientar para novas alternativas e é um bom mediador de conflitos e gestor de equipas”, defende a investigadora.

De acordo com Ana Correia de Almeida, alguém que investe no aumento das suas competências emocionais, consegue identificar com mais facilidade estados emocionais negativos e agir sobre eles de forma preventiva, melhora as relações interpessoais com os que estão à sua volta, pois identifica com maior facilidade os estados de humor e adapta-se a eles, tende a mostrar uma atitude de resiliência positiva perante as adversidades, a ser mais automotivada para a concretização dos projetos pessoais e profissionais.

E ao contrário do que se pudesse pensar, nem só nos adultos é visível esta diversidade de comportamentos, nas crianças também se encontram diferenças de comportamento que indicam níveis de inteligência emocional muito distintos. É disso exemplo o conhecido teste do marshmallow, levado a cabo em 1960 por Walter Mischel, da Universidade de Stanford.

Com a criança sozinha numa sala, sentada a uma mesa, foi-lhe colocado um prato à frente com um marshmallow. Os investigadores explicavam às crianças como funcionava o “jogo”: se elas esperassem até os investigadores voltarem a entrar na sala sem comer aquele marshmallow, davam-lhes outro e então, poderiam comer os dois em vez de apenas um. Algumas das crianças contiveram-se, outras não.

Todas elas foram acompanhadas ao longo dos anos com mais testes esporádicos e os investigadores perceberam que as crianças que foram capazes de esperar pelo segundo marshmallow tinham melhores notas e melhor relacionamento com os colegas, eram mais equilibradas e acabaram por se tornar adultos mais bem-sucedidos.

Emoções: para que servem e como se aprendem

Lembra-se do Principezinho de Saint-Exupéry?  “Eis o meu segredo”, explicava ele, “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” afirmava.

Como nos explica Ana Correia de Almeida, desde os anos 90, primeiro ao nível das comunidades científicas, depois ao nível das comunidades académicas e, mais recentemente, ao nível do senso comum, tem vindo a vingar a ideia da unidade entre o pensamento e a razão, entre a emoção e a cognição, como defende António Damásio. “Reconhecer as emoções, compreendê-las e atuar sobre elas é a base fundamental da I.E.”, explica a investigadora. E como defendem vários autores a verdadeira inteligência emocional é o que une emoção e cognição, sendo a harmonia entre estes dois aspectos que garante o desenvolvimento eficaz para enfrentarmos qualquer situação da vida.

Mas a inteligência emocional aprende-se? Ana Correia de Almeida é peremptória: a inteligência das emoções aprende-se, sim. Aliás, pode ser aprendida, educada e desenvolvida.

O autor Bisquerra Alzina sustenta que uma das formas de praticar as competências sociais e emocionais é através da educação emocional, definida como “processo educativo, contínuo, permanente, que pretende potenciar o desenvolvimento de competências emocionais, como elemento essencial do desenvolvimento integral da pessoa, com o objetivo de capacitar para a vida.”

Este processo, defende a investigadora Ana Correia de Almeida, pode acontecer com um investimento pessoal na autoformação, seja através da leitura de livros sobre a temática, seja pela frequência de cursos de formação e workshops nesta área, ou através da prática frequente de exercícios que ajudem a pensar de forma diferente, entre outras estratégias. No entanto a investigadora e formadora defende que o trabalho nesta área deve ser contínuo: podemos sempre evoluir mais!

A inteligência emocional nas empresas

Ter facilidade nas relações interpessoais, capacidade de trabalhar em equipa, saber ler as emoções dos outros e colocar-se na posição deles tem sido também, cada vez mais, valorizado nas empresas. Hoje, muitos empregadores não avaliam apenas o curriculum académico e profissional e querem ir mais além: querem perceber se aquela pessoa terá facilidade em ser um elemento que contribua para o teambuilding, se sob pressão se manterá à altura, se terá flexibilidade quando tal lhe for pedido.

O ambiente empresarial está cada vez mais competitivo e, simultaneamente, cada vez mais humanizado e dominado pela valorização das emoções. Parece um contra-senso, mas não o é, de todo. Afinal, as empresas são feitas por pessoas.

De resto, Goleman defende mesmo que atualmente, em muitas profissões, as competências emocionais são mais importantes em mais de 73 por cento do que as competências técnicas pertinentes para a profissão.

Isabel Freire de Andrade e Sofia Calheiros, Partners da Conceito O2,  empresa de consultoria, especializada na criação e na implementação de soluções de Recursos Humanos e Desenvolvimento em Inteligência Emocional, Liderança e Clima Organizacional, afirmam mesmo que há certas competências emocionais que são “um must”.

Para identificar essas competências e poder avaliar o QE de um candidato, as entrevistas de trabalho também se transformaram bastante. Isabel Freire de Andrade e Sofia Calheiros explicam que, na Conceito O2, têm um método para reconhecer as competências de Inteligência Emocional que se baseia, entre outras técnicas, no aprofundamento de incidentes críticos, pelo que fazem perguntas como: Conte-me uma situação em que tenha tido sucesso. O que se estava a passar? O que fez? O que pensou durante essa situação? O que sentiu? Qual foi o impacto?

“Pelas respostas a estas questões percebemos até que ponto o candidato reflete sobre o impacto das suas emoções e dos seus comportamentos nos outros, se é capaz de fazer uma autoavaliação crítica ou se apenas critica os outros e até que ponto acredita em si próprio e está consciente das suas capacidades, de forma realista (…) percebemos ainda a capacidade de autogestão e empatia, ou seja, até que ponto se consegue colocar no lugar do outro ou se está preso ao seu ponto de vista”, contam-nos as consultoras.

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