Isso dói?

Antes de mais, comecemos por unir aquilo que durante muito tempo esteve (artificialmente) separado: Corpo e Mente. Façamos então esta clarificação prévia: Não existe “só” a dor da Mente. Ou “só” a dor do Corpo.

Hoje é claro para os cientistas que o cérebro e o corpo constituem um organismo indissociável. Formam um conjunto integrado por meio de circuitos reguladores bioquímicos e neurológicos mutuamente interativos. Retenhamos, pois, esta ideia: um e outro “tocam-se”, espelham-se, estendem-se.

E o que fazer com a perceção que temos da nossa dor? Pois bem. Essa é outra questão. Em primeiro lugar, em face do que quer que lhe provoque dor, o facto de focar nisso a sua atenção irá, muito provavelmente, aumentar a experiência de dor. E não, não somos pela apologia da avestruz, bem pelo contrário. Apenas dizemos que muitos de nós caem frequentemente na “armadilha” mental de sobrevalorizar a “importância” de questões que nos incomodam, repetindo-as, reproduzindo-as, repisando-as, ruminando-as incessantemente em conversas, desabafos amargos, irritações ou lamentações, sem nada mais fazer para além disso e, sobretudo, sem procurar fazer algo de concreto para atenuar ou eliminar esses mesmos incómodos. Tudo, aparentemente, sem perceber que esse tipo de “holofote” sobre as maleitas tem por única consequência prolongar o mal-estar ou mesmo contribuir para o seu aumento.

Às vezes é boa ideia investir mais tempo e energia na procura de informação realista sobre situações ou problemas que antevemos como desagradáveis, não se dê o caso de certos cenários que criámos serem muito piores do que, na realidade, o são. Afinal, somos por vicissitudes várias algo propensos para o drama e para a tragédia. Mas isso, por si só, não tem mal; é inerente à nossa condição humana.

Contudo, ao procurarmos olhar objetivamente para as questões, vamos começar a criar discursos internos mais realistas, adaptados e fundamentados que originam padrões de raciocínio mais consentâneos que, por sua vez, ainda dão origem a sentimentos mais positivos e elaborados – o que é uma via excelente para a saúde (física-mental).

Estar vivo implica estar aqui e estar agora. Num “agora” que, por mais que tenha sido moldado ou condicionado em função de um “outrora” do passado, não deve descartar as permanentes e sempre possíveis possibilidades de atualização que o presente nos oferece. Estamos inscritos neste “presente”, potencialmente em transformação e aberto à mudança, à cocriação e à co-recriação da nossa realidade.

Convém lembrar que só porque no passado aconteceu “isto e aquilo” de determinada maneira, nada nos garante que tal se venha a repetir “dessa” forma. Muda-se o contexto, mudamo-nos nós. E, claro, o eterno adágio: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades!… Nessa mudança reside toda a diferença. Celebremos pois a novidade que cada momento nos traz. A novidade que cada novo dia nos propõe. O renascer que cada nova manhã nos mostra. A cura das dores que cada aqui-e-agora nos aponta. Traga-se a si mesmo aqui e permita-se agora.

Fonte: Sara Ferreira – Psicóloga e psicoterapeuta do Centro WONDERFEEL

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