Geriatria: o que é?

Se tem um pai ou avô idoso, como saber a que médico o deve levar? Quando é que se justifica optar por um geriatra? Veja aqui qual o campo de competências da geriatria e conheça em pouco mais da sua história.

A geriatria existe há largas décadas, pelo que a sua definição tem vindo a mudar ao longo do tempo, mas atualmente, de forma muito simples, de acordo com Gorjão Clara, internista e cardiologista, especializado em geriatria, pode ser definida como o ramo da medicina que se ocupa dos idosos, não só do ponto de vista físico, como também emocional e social, psiquiátrico e psicológico. Um termo que deve ser distinto de Gerontologia, que é o estudo do envelhecimento em si.

A grande particularidade do doente idoso é que, muitas vezes, têm várias doenças ou estados debilitantes em simultâneo. As causas e consequências misturam-se, não se sabe o que é que um problema autónomo, consequência de outro problema ou resultado de medicação, os sintomas são muitos e é difícil destrinçar a sua origem, entre as muitas possíveis.

Como explica Gorjão Clara, “o doente geriátrico propriamente dito, não é o doente idoso – porque o doente idoso pode ter uma doença aguda e ser saudável – mas o idoso que tem muitas doenças em simultâneo, por exemplo, uma pneumonia que se enxerta num doente que já tem diabetes, que tem hipertensão, que tem doença coronária ou angina de peito.” Ou seja, tem muitas doenças em simultâneo, muitas de forma crónicas, que já foram objeto de muitas observações por muitos médicos e muitas abordagens terapêuticas.

Resumindo: é um doente muito complexo, que tem vários sintomas e sinais que se misturam e que tornam às vezes difícil o diagnóstico da doença principal. E estes casos devem ter uma avaliação e abordagem própria que exige conhecimento desse tipo de patologias, sendo que habitualmente quem o detém este saber é o médico geriatra.

Esta associação da geriatria apenas à idade do doente tem origem no seu início. Gorjão Clara explica esta “confusão” com o exemplo da pediatria que nasceu pelo facto de se perceber que as crianças tinham características próprias do ponto de vista da manifestação das doenças e da abordagem terapêutica. Definiu-se então uma faixa etária dentro da qual para esses doentes “pertenciam” a um grupo de especialistas que eram os pediatras.

Depois, por semelhança, fez-me o mesmo com a geriatria: a partir dos 65 anos, que era a idade da reforma, os que sobreviviam (e que há 50 anos ou 70 anos não eram muitos) eram objecto de uma abordagem médica e terapêutica feita pelos geriatras.

Assim, quando a primeira unidade de geriatria foi criada na europa  – no serviço nacional de saúde inglês, por Marjory Warrens (VER CAIXA) – o critério era que os doentes internados com ais de 65 anos iam para a sua unidade. “Hoje a esmagadora maioria dos doentes que vão para os hospitais têm mais de 65 anos, se se definisse o doente geriátrico pela idade, quase todos os doentes que estão no hospitais era doentes geriátricos e não são”, exemplifica o especialista. Portanto aquilo que define o doente geriátrico é doente em si: a complexidade dos sintomas e das doenças que apresenta.

Considerando o panorama Europeu, Portugal é um dos poucos países em que a geriatria não é reconhecida como uma especialidade médica autónoma. Assim, não há unidades de geriatria nos hospitais, havendo no entanto, uma consulta de geriatria no Hospital Pulido Valente, em Lisboa.

Marjory Warrens e a Avaliação Geriátrica Ampla

A médica britânica Marjory Warren é considerada por muitos como a “mãe” da Geriatria. Foi ela que, no Reino Unido, na década de 30, começou a fazer as primeiras tentativas de avaliar doentes idosos. Tendo assumido a chefia de um hospital com pacientes crónicos e imobilizados, sem diagnóstico nem atendimento especializado, começou a fazer uma avaliação, caso a caso. Tinha em conta as peculiaridades e necessidades específicas dos doentes e passou a defender que todo o idoso deveria receber uma Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), de forma a ser possível traçar um plano de reabilitação adequado a cada um. A maioria dos doentes ultrapassou muitas das suas incapacidades, recebeu alta hospitalar e voltou às suas rotinas diárias em casa.

A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) olha o idoso como um todo, é uma análise multidimensional e multidisciplinar, e tem por objetivo determinar as fragilidades do idoso. Deteta as deficiências, incapacidades e desvantagens que o idoso apresenta de forma a traçar um plano de cuidados, acompanhamento e reabilitação a longo-prazo.

Além de outras diferenças do exame clínico “normal” a AGA distingue-se por colocar a tónica da avaliação da capacidade funcional do idoso e na sua qualidade de vida.

Fonte: British Medical Bulletin

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