Recém-Mamã: um guia de sobrevivência para o 1º mês

Oh, a grande aventura de ser mãe… Absolutamente maravilhosa, sem dúvida, mas nem tudo é um mar de rosas e raramente “funciona” sobre rodas desde o primeiro dia.

As primeiras semanas trazem dúvidas, angústias e sentimentos contraditórios. O truque? Alguma descontracção e muito boa informação. Saber o que a espera e como pode resolver as dificuldade mais frequentes é meio caminho andado para tudo correr pelo melhor e poder aproveitar ao máximo este novo e maravilhoso papel de mamã.

A história do primeiro mês é feita de encantamento, descoberta deste grande amor, sorrisos e ternura. Mas quase sempre há também espaço para desconforto, privação de sono, insegurança e choro fácil, “desgosto” por continuar com barriga de grávida, nervos em franja por já não saber o que fazer para lhe acalmar o choro e dilemas como: “já espirrou duas vezes, será melhor ligar ao pediatra?” Assim é – também – a vida de mãe de primeira viagem nas primeiras semanas em casa com o rebento.

Depois dos primeiros dois ou três dias de vida do bebé ainda na maternidade, o momento da chegada a casa com o bebé é um misto de satisfação e insegurança. Ali está ele, na sala, dentro do ovinho, e não é rara a mulher que o olha e pensa qualquer coisa como: “E agora o que é que eu faço contigo?” O peso de sentir que aquele pequeno ser vai ser completamente dependente de si durante muitos anos, a inexperiência quanto às tarefas inerentes à maternidade e a enorme mudança que está a acontecer no seu corpo e na sua vida, são explicação mais do que suficiente para estes sentimentos mistos.

Lançamos um pedido de SOS à enfermeira Isabel Carvalho, especialista em saúde materna e obstetrícia do Centro Pré e Pós Parto: ajudar-nos a responder às perguntas, dúvidas e angústias mais frequentes da mãe durante o primeiro mês após o nascimento do seu rebento. Segue, sem mais demoras, aquilo que interessa: o pequeno “manual de instruções” para mães de primeira viagem com os conselhos de Isabel Carvalho.

 

Episiotomia

Em Portugal, segundo dados de 2015, cerca de 73% das mulheres que têm partos vaginais são submetidas a este corte na região do períneo que se destina a facilitar a saída do bebé. A dor associada à episiotomia é uma das questões que podem marcar os primeiros dias da recém mãe. Como nos explica Isabel Carvalho, os pontos caem espontaneamente, previsivelmente entre o 7º e o 10º dia após o parto.

As recomendações da enfermeira são as seguintes: descansar sempre que possível para não pressionar a zona, é fundamental a aplicação de gelo duas vezes por dia para ajudar a desinflamar, aliviar a dor e facilitar a cicatrização.

É também importante a utilização de pensos higiénicos hipoalergénicos e trocá-los pelo menos duas vezes por dia, tendo ainda os cuidados de higiene habituais, fazendo a lavagem diariamente com sabão neutro. A dor muito intensa e prolongada no tempo não é para ser ignorada e deve resultar numa ida precoce ao médico assistente ou a uma urgência.

Subida de leite

Este é o desconforto mais comum no pós-parto, ocorre por norma entre 3º e o 5º dia após o nascimento e, habitualmente, de forma súbita. “Os sintomais mais comuns são tumefação mamária, com dor associada, calor na região mamária e poderá ocorrer um pico de febre“, refere Isabel Carvalho. A enfermeira explica que nesta altura é fundamental fazer o alívio dos sintomas: aplicar calor e massagem sempre que se aproxime a hora da refeição do bebé, não deixar de dar mama, mesmo que não seja muito confortável e aplicar gelo no final da mamada. Por norma, este desconforto atenua em 24 horas, no entanto, sintomas como uma zona vermelha na mama, que não alivia após a mamada, persistente, e febre contínua deverá levar a recorrer ao seu médico, uma vez que se pode estar perante uma inflamação dos ductos mamários, chamada mastite, sendo necessário medicação.

 

Lóquios

As perdas de sangue no pós-parto chamam-se lóquios, iniciam-se com a dequitadura (a saída da placenta), e mantém-se durante duas a três semanas. “São perdas de sangue semelhantes à menstruação, mas mais prolongadas no tempo. Os sinais de alerta são a permanência de lóquios por maior período de tempo do que o expectável, saída de coágulos ou cheiro intenso associado às perdas de sangue”, esclarece Isabel Carvalho.

 

Labilidade emocional

Após o nascimento de um bebé, cerca de 90% das mulheres experiência um período de choro, labilidade emocional, insegurança e incerteza quanto aos cuidados que presta ao seu bebé e à sua capacidade em assumir um novo papel: o de ser mãe.

Este baby blues é habitualmente um período auto-limitado, curto e de resolução espontânea. Uma mãe que mantêm este estado de espírito por muito tempo deve ser referenciada ao médico assistente para despiste de uma possível depressão. Alguns dos sinais são muito subtis: sensação de cansaço constante, perda de vontade em tratar do seu bebé, perda do gosto em vestir-se a si ou ao bebé e isolamento.

A privação do sono

Alguns estudos apontam para que em média os novos pais durmam cerca de cinco horas por dia, sendo que nem sempre este sono é reparador. É importante que a nova família adopte algumas estratégias para ganhar mais alguns momentos de descanso, desde logo, a mãe aproveitar os momentos em que o bebé se encontra a dormir para descansar também.

As mães que aproveitam os momentos de sono do bebé para realizarem algumas tarefas da casa pendentes, acabam por nunca descansar. Aqui é igualmente importante aproveitar todas as ajudas possíveis em casa e os avós são habitualmente ajudas muito disponíveis para estas tarefas.

Por outro lado, Isabel Carvalho refere também que outra estratégia importante é fazer a partilha de ambientes de sono dos pais com o bebé. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a partilha de sono dos pais com o seu bebé, ou seja dormir no mesmo quarto, até aos 6 meses de vida, sobretudo se se quiser potenciar a amamentação. Alguns estudos referem que as mães sincronizam os momentos de sono com o bebé, e que por isso, quando um acorda, o outro também desperta, o que permite que a mãe tenha momentos de sono mais profundo.

 

A angústia de ouvir o bebé chorar

O choro do bebé pode ser insistente e a mãe deve dominar algumas técnicas para o acalmar (e para ela própria se acalmar!), perante o choro persistente do bebé. A mãe tem de ter presente que é através do choro que o bebé nos comunica as suas necessidades como a fome, a fralda suja, frio ou calor, necessidade de atenção, cólicas ou doença e saber identificar as causas do choro é um processo de aprendizagem como qualquer outro.

Então, o que fazer quando o bebé chora? Em primeiro lugar, estar atento aos sinais que o bebé dá cada vez que chora: isso permite aos pais perceberem as causas, já que atuar sobre o choro implica atuar sobre a causa. Assim, o bebé irá sentir que a sua necessidade foi compreendida e mereceu uma resposta e isto irá contribuir para a sua auto-estima, conferindo-lhe segurança e tranquilidade.

Para acalmar um bebé existem algumas estratégias: o colinho, já que os bebés precisam de contacto físico com os pais, de sentir o seu cheiro, o seu coração e o seu calor; permitir que o bebé possa chuchar, porque é uma das formas que tem de se auto-regular (a sucção não nutritiva regula a função cardíaca, respiratória e hormonal e intervém no controle da temperatura corporal); a água quente, muitos bebés acalmam quando colocados em suspensão dentro de água, de preferência em posição vertical (usando o recurso de uma banheira vertical, tipo balde), a massagem, o poder do toque permite ao bebé acalmar, e aumenta a vinculação com os pais.

A maioria dos pais aprende por tentativa e erro. Cada bebé tem a sua forma de regular o choro, pelo que algumas estratégias muito úteis para uns bebés poderão revelar-se completamente ineficazes para outros. Manter a calma é fundamental para este processo de aprendizagem.

O “desgosto” de continuar com barriga de grávida

É inevitável que fiquem sequelas após o parto. É um facto que a barriga não retoma a forma inicial imediatamente após o parto. No fim de dar à luz vai parecer que continua grávida, embora de menos meses… O corpo de uma grávida muda e adapta-se ao longo de 40 semanas, e também necessita de algumas semanas para voltar à sua forma pré-gravidez. O tempo que demora esta transição para as formas iniciais depende de como o corpo de uma mulher se encontrava antes de engravidar, do aumento de peso que se deu durante a gravidez e do nível de atividade física que manteve.

Para a recuperação no pós-parto, a enfermeira Isabel Carvalho refere que quando há um equilíbrio na ingestão alimentar, é possível perder-se peso com o auxílio da amamentação: em média, uma mulher consome 500 kcal para a produção de leite em 24 horas. Por outro lado, a amamentação permite também a involução uterina (o processo pelo qual o útero volta ao tamanho normal) mais rápida pelas contracções induzidas pela produção de ocitocina durante a amamentação.

O início da prática de exercício físico no pós-parto deverá ser avaliado pelo médico. Até lá devem ser realizados os exercícios de Kegel (contrações da musculatura do pavimento pélvico) e exercícios de “encolher a barriga” que permitem uma recuperação da musculatura abdominal mais rápida. Exercícios de abdominais devem ser evitados.

 

Preocupações de mãe

Está em pânico porque o bebé já espirrou três vezes? Acha estranho o cocó ser verde? Achar que ele está a dormir demais ou de menos? Vai ter de aprender a relativizar e terá de procurar boas fontes de informação.

Um recém-nascido é um mundo totalmente novo, pelo que dúvidas e inseguranças associadas ao bem-estar e saúde do bebé surgem com frequência. É importante manter a calma e a “cabeça fria” para perceber o que é normal e o que não é suposto acontecer, e perceber quais são os eventos naturais do desenvolvimento e quais os motivos que requerem preocupação.

A maioria das preocupações de saúde são associadas a eventos expectáveis como a existência de soluços, espirros, acne, o aspecto normal dos cocós, entre outros. Momentos-chave como o teste do pézinho ou as consultas de acompanhamento realizadas pelo médico de família, enfermeiro ou pediatra podem ajudar a tranquilizar os pais. É nestas alturas que um profissional poderá tranquilizar os pais e fazer ensinos sobre o que é normal ou expectável e o que não é expectável e como proceder.

Alguns pais têm, também, o suporte dos avós, que têm um papel fundamental sobretudo para os tranquilizar e deixá-los mais seguros quanto aos cuidados que prestam ao seu bebé.

Também um curso de preparação para o parto poderá ser uma óptima estratégia para que os pais tenham a informação necessária para que se sintam mais seguros, quer para o momento do parto, como para o pós-parto. Informação como os cuidados de higiene, sono, prevenção do Síndrome de Morte súbita, conforto, amamentação e situações benignas no recém-nascido é habitualmente oferecida pela maioria dos cursos.

 

Organização e criação de novas rotinas

Todas as famílias têm rotinas, apesar da maioria das famílias não ter consciência de todas as rotinas que detêm. E após o parto as rotinas prévias mudam. Os pais terão que adaptar inevitavelmente novas rotinas, uma vez que já não são apenas um casal, mas agora um casal com um bebé, o que por si só acarreta uma dinâmica diferente da anterior ao nascimento do novo elemento.

Para implementar uma nova rotina na nova família, é importante implementar uma rotina no bebé. Reconhecer uma rotina permite ao bebé antecipar o que vai acontecer, saber o que é esperado dele: é securizante para o bebé e gratificante para os pais, pois o bebé mais facilmente exibe o comportamento pretendido. Um dia organizado para o bebé, permite que as suas necessidades básicas estejam satisfeitas (sono e repouso) e permite também um dia organizado aos pais.

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