Será o Tomate: um superalimento?

O tomate é o fruto do tomateiro, Solanum lycopersicum; Solanaceae. Originário das Américas Central e do Sul, era amplamente cultivado e consumido pelos povos pré-colombianos, sendo atualmente cultivado e consumido em todo o mundo.

O tomate sabe bem com o hambúrguer, ou na salada, ou presente num molho envolvendo o esparguete à bolonhesa. Mas o tomate é bem mais do que apenas um fruto delicioso. Incluindo-o na alimentação pode diminuir o risco de aparecimento de cancro e de doenças cardiovasculares, devido essencialmente, ao licopeno que possui.

Nos anos recentes, o papel da nutrição na prevenção do cancro tem assumido uma importante área de investigação. A avaliação do papel dos carotenóides, especificamente, do beta-caroteno, na prevenção do cancro teve início nos anos 20. Contudo, o interesse no licopeno apenas teve ínicio no final dos anos 80, quando foi descoberto que a sua atividade antioxidante era o dobro da do beta-caroteno.

O licopeno é um carotenóide, o pigmento responsável pela característica cor vermelha do tomate e dos seus derivados. Tem tido particular interesse científico devido às suas propriedades físico-químicas e biológicas, especialmente relacionadas com o seu efeito enquanto antioxidante natural. Apesar de não ter atividade pró-vitamina A como os outros carotenóides, o licopeno elimina radicais livres que podem lesar o ADN e outras estruturas celulares frágeis.

Qual o mecanismo?

O efeito antioxidante do licopeno é potencialmente benéfico para a prevenção das doenças cardiovasculares e do cancro da próstata. Relativamente às doenças cardiovasculares, o licopeno pode possivelmente reduzir o desenvolvimento da doença, ao diminuir a inflamação, a síntese de colesterol ou aumentar a função imunitária. O mecanismo proposto para a ação do licopeno na prevenção do cancro da próstata inclui a inibição da proliferação, de fatores de crescimento e efeitos antiandrógenos.

Evidências do tomate?

Estudos observacionais (estudos que avaliam uma larga amostra populacional) em diversos países demonstraram que o risco para desenvolver alguns tipos de cancro é mais baixo em pessoas que possuem maiores níveis licopeno no sangue. Os estudos sugerem que dietas ricas em tomate podem entrar para esta redução do risco. A evidência é mais forte para o efeito protector do licopeno contra o cancro do pulmão, estômago e próstata. Pode também proteger contra o cancro do cólo do útero, mama, boca, pâncreas, esófago, cólon e reto.

Alguns estudos populacionais demonstraram que uma dieta rica em alimentos derivados do tomate, ricos em licopeno estava associcada a uma diminuição do risco de cancro da próstata. Outros estudos, contudo, não encontraram nenhuma ligação. Um estudo recente sugeriu que a variação num gene particular (XRCC1) que ajuda na reparação de ADN danificado influencia o efeito do licopeno ingerido no risco de desenvolver o cancro da próstata.

Uma revisão de 2004, que analisou 21 estudos observacionais, concluiu que os produtos derivados do tomate parecem ter um efeito protetor fraco contra o cancro da próstata. A análise notou que o efeito protetor era maior para produtos confecionados e que pequenas quantidades de gordura adicionada aumentavam a absorção de licopeno.

Um estudo com um pequeno grupo de doentes do sexo masculino com cancro da próstata demonstrou que suplementos com licopeno pareceram reduzir o rápido crescimento das células tumorais. Outro estudo demonstrou que o licopeno não tinha um efeito significativo.

Alguns ensaios clínicos reportaram efeitos de curto-termo do licopeno nos níveis de PSA (antigénio específico da Próstata), considerado um bom indicador do crescimento do cancro da próstata. Apesar destes estudos constituirem uma importante esperança, não são tão válidos como os estudos de longo-termo que avaliam se o tratamento realmente aumenta a qualidade de vida dos doentes e a melhoria da sintomatologia.

A maioria dos estudos em humanos que têm sido publicados até hoje são estudo caso-controlo ou outros estudos observacionais, que são mais suscetíveis de erro do que os ensaios clínicos. Mais informação a partir dos ensaios clínicos (incluindo resultados de diversos estudos que estão a ser realizados neste momento) é necessária para assegurar que alimentos ricos em licopeno, como o tomate, ajudam na prevenção e no tratamento do cancro.

Como aumentar a biodisponibilidade do licopeno na alimentação?

A absorção do licopeno pode ser influenciada por diversos fatores. A sua biodisponibilidade é maior em produtos processados do que em tomates frescos. O processamento vai quebrar as paredes celulares, o que diminui as forças de ligação entre o licopeno e a matriz tecidular do tomate, sendo este libertado e mais facilmente absorvido. O molho de tomate é uma boa opção.

Qual a dose diária recomendada de tomate para ter o efeito terapêutico?

O licopeno obtido a partir das frutas e vegetais não tem efeito secundário, nem tóxico ou perigoso para os humanos. A dose apropriada de licopeno depende de diversos fatores como a idade, estado de saúde, e outras condicionantes. Neste momento não existe suficiente informação científica para determinar um balanço específico de doses para o licopeno. Veja na caixa abaixo os alimentos derivados do tomate mais ricos neste antioxidante.

Alimentos derivados do tomate ricos em Licopeno (mcg)

½ chávena de puré de tomate: 27,192

1 chávena de sumo de tomate: 21,960

1 colher de sopa de pasta de tomate: 3,140

1 colher de sopa de ketchup: 2,506

1 tomate seco: 0,918

1 fatia de tomate fresco: 0,515

1 tomate cherry: 0,437

Mais pesquisa referente à biodisponibilidade, farmacologia, bioquímica e fisiologia do licopeno deve ser feita para revelar o mecanismo deste micronutriente na dieta do humano e do seu metabolismo in vivo. O aconselhamento para uma alimentação saudável proporciona uma oportunidade para se desenvolverem alimentos ricos em licopeno como alimentos funcionais. Alimentos ricos em licopeno, como o tomate, ao cumprirem com a regulamentação de segurança e higiene alimentar, podem trazer potenciais benefícios à indústria alimentar e à qualidade de vida dos humanos.

Optar por alimentos derivados do grupo das frutas e dos hortícolas e de outras fontes vegetais, como frutos secos e leguminosas, é aconselhado. The American Cancer Society recomenda, nas suas mais recentes guidelines, uma dieta equilibrada com ênfase nas fontes vegetais, que inclui:
– 5 ou mais porções de vegetais e frutas por dia.
– Reduzir o consumo de carnes vermelhas e processadas.
– Equilibrar o consumo calórico com atividade física
– Reduzir o consumo de álcool.

Baseado em evidência científica atual, os alimentos que você consome são mais propícios a desempenhar um papel fundamental na prevenção do cancro do que propriamente a tratá-lo.

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