Chi Kung e Tai Chi: o equilíbrio ao seu alcance

Duas artes diferentes que se pautam pelo mesmo ritmo. Os movimentos fluídos e harmoniosos refletem a profunda consciência corporal dos praticantes de Chi Kung e Tai Chi e os rostos denunciam o foco e a concentração que a prática exige. Em comum têm o profundo equilíbrio físico e emocional que proporcionam e o facto de serem consideradas poderosas ferramentas de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal. Saiba mais sobre estas duas práticas milenares.

Desde sempre os orientais estudam a energia e defendem aquilo de que em tempos um certo ceticismo científico duvidou: somos um todo e o nosso equilíbrio e harmonia dependem de um corpo e mente alinhados.

Hoje já são quase universalmente aceites tanto pelo senso comum, como pelo meio científico, os benefícios de práticas como a meditação. De resto, muitas delas foram já até “ocidentalizadas” dando origem a práticas cada vez mais mainstream como o mindfullness. O relaxamento, os exercícios de respiração, o treino da concentração e do foco são inquestionavelmente formas de aumentar a nossa perceção corporal, de gerirmos o stress, de aumentarmos a nossa tolerância à dor, de, em suma, nos tornarmos mais harmoniosos.

Chi Kung e o Tai Chi

O  são duas artes chinesas que trabalham precisamente a energia do organismo e o foco da mente. São definidas como artes internas, ou seja, caracterizam-se pela ênfase no cultivo e desenvolvimento do “Qi” (ou Chi, a energia vital) e promovem o relaxamento e a circulação de energia, contribuindo para a saúde e o bem-estar geral dos praticantes.

Como nos explica em maior pormenor Sónia Malaquias, professora de Tai Chi e Chi Kung, para a Medicina Tradicional Chinesa, o nosso corpo é percorrido por vários “canais de energia”, denominados meridianos. E a doença ou mal-estar aparece quando a energia nesses meridianos fica bloqueada, o que pode ocorrer por razões internas ou externas, desde agentes patogénicos a emoções negativas.

 

Chi Kung, uma arte terapêutica. Tai Chi, uma arte marcial

O Chi Kung é uma prática terapêutica que tem como finalidade “desbloquear e fazer fluir a energia nos meridianos. Tal é conseguido através da concentração nas várias partes do corpo: porque para onde vai a mente (leia-se a atenção e a concentração), a energia e o corpo acompanham-na”, esclarece Sónia Malaquias. A prática pode ter expressões muito diferentes: sequências de movimento, posições estáticas, automassagem e até movimentos espontâneos

Já o Tai Chi é considerado uma arte marcial – visto que é essa a sua origem – pese embora os movimentos geralmente lentos que são executados. O Tai Chi, por oposição ao Chi Kung, é baseado na existência de formas, “todo o conjunto de movimentos sequenciais, de defesa e ataque, como uma coreografia”, explica Sónia Malaquias.

José Hartvig de Freitas, licenciado em Medicina Tradicional Chinesa e professor de Tai Chi conta-nos que o Tai Chi foi uma das primeiras artes marciais que combinou noções da Medicina Chinesa, sobre como o corpo está organizado energeticamente, com conceitos da filosofia Taoista. Apesar da sua origem ser esta, “a verdade é que as práticas do Tai Chi puderam ser adaptadas, talvez mais do que as de outras artes marciais, a uma prática pessoal moderna por pessoas que não estão particularmente interessadas na componente marcial, e com resultados muito positivos quanto à saúde, física e mental (…) O facto de não se praticar o Tai Chi diretamente como uma arte marcial não invalida o seu valor”, refere.

A própria lentidão dos movimentos, segundo nos explica o professor, é hoje considerada como uma parte importante do treino, a capacidade de “ocupar o corpo” com a nossa mente necessita da lentidão, embora o Tai Chi tenha muitos outros exercícios adicionais mais dirigidos para quem está interessado na prática marcial: “formas a dois, Tui Shou, um tipo de exercício em que ambos os parceiros exploram equilíbrio, força, empurrar e assim por diante, até, e inclusive, trabalho com sacos de boxe, por exemplo.” Em suma, cada um pode adaptar a prática de Tai Chi aos seus objetivos e interesses.

 

 Chi Kung e Tai Chi, duas práticas, benefícios semelhantes!

Estimulam a circulação sanguínea, aumentam a resistência e a forma física, fortificam as articulações, promovem a flexibilidade, descontraem as tensões, reforçam o sistema imunitário, melhoram a postura e o equilíbrio… Estes são apenas alguns dos benefícios destas práticas que, de acordo com Sónia Malaquias, estão comprovados por estudos científicos realizados no Ocidente.

Mas as vantagens vão muito além das meramente físicas: estendem-se ao bem-estar mental e mesmo espiritual. A estimulação da capacidade de concentração e a diminuição da ansiedade através do relaxamento são dois dos ganhos mais evidentes, a par da melhoria da qualidade do sono.

Além disso, “estas artes promovem também o desenvolvimento pessoal, através do aumento do autoconhecimento, indispensável para se continuar a praticar, já que somos confrontados com as nossas próprias dificuldades com o evoluir da prática”, refere Sónia Malaquias.

A professora acredita que os benefícios são idênticos para as duas artes e consistem essencialmente no equilíbrio do fluxo de energia, com todas as consequências físicas e psíquicas que daí resultam.

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