Alergias e intolerâncias alimentares – Abordagem nutricional

Alergias e intolerâncias alimentares, ambas as condições desencadeiam reações e sintomas que perturbam o normal funcionamento do organismo, quando ingerimos determinados alimentos, mas envolvem mecanismos diferentes. Conheça as diferenças entre cada uma das situações e qual a abordagem a seguir.

A alergia alimentar consiste numa reação adversa que ocorre quando o sistema imunológico reconhece erradamente um determinado alimento como uma entidade agressora ao organismo. A fração desse alimento que é responsável pela reação alérgica denomina-se alergénio (geralmente uma proteína) e as manifestações ocorrem sempre que há a exposição ao mesmo, por via oral (ingestão) e em alguns casos aérea (inalação de vapores) ou por contacto cutâneo.

Apesar de pouco conhecida, a prevalência de alergia alimentar é mais elevada entre crianças do que em adultos, estimando-se que afete 6 por cento da população infantil e 3 a 4 por cento da população adulta. Ainda assim, alguns estudos mostram que até 35 por cento da população perceciona erradamente sofrer de alergia alimentar.

Virtualmente, qualquer alimento pode causar uma reação alérgica, no entanto cerca de 90 por cento de todas as reações devem-se a 8 alimentos: leite, ovos, amendoim, frutos de casca rija (comummente designados de frutos secos), peixe, trigo, marisco e soja. Entre as crianças é mais prevalente a alergia ao leite, ovo e peixe, enquanto na idade adulta os principais alimentos responsáveis por manifestações de alergia são o amendoim, frutos de casca rija e marisco.

As manifestações clínicas variam de moderadas a severas, podendo mesmo, em alguns casos, ser fatais. Os sintomas surgem rapidamente, entre alguns minutos até duas horas após a ingestão do alergénio, e podem incluir manifestações cutâneas, respiratórias, gastrointestinais e cardiovasculares, de forma isolada ou combinada. A anafilaxia é a manifestação mais severa de reação alérgica, podendo mesmo ser fatal se não for tratada convenientemente e inclui sintomas como a taquicardia, hipotensão, tonturas, desmaio e dificuldades respiratórias.

O diagnóstico de alergia alimentar é um ato exclusivamente médico, que inclui recolha da história clínica do doente, realização de testes cutâneos, recolha de análises sanguíneas e, se necessário, realização de provas de provocação oral.

Testes e kits de intolerância alimentar

Atualmente é comum a utilização de kits e testes comerciais de intolerância alimentar em farmácias e algumas clínicas, sem qualquer intervenção de um médico especializado na área. Estes testes produzem resultados que carecem de validade científica, do ponto de vista do diagnóstico de qualquer tipo de intolerância ou alergia alimentar, sendo, na maior parte dos casos, meros marcadores de exposição aos alimentos testados.

Assim, quanto maior o consumo do alimento testado maior é a probabilidade de se obter um resultado positivo para o mesmo sem que isso seja um indicador de qualquer tipo de intolerância alimentar. Para além do facto de que a alergia alimentar se trata de uma condição apenas possível de diagnosticar em ambiente clínico, com a oritentação de um médico especializado, os resultados destes testes produzem longas listas de alimentos proibidos cuja evicção, a longo prazo, pode mesmo levar a certas carências nutricionais, sem qualquer necessidade da mesma. Se suspeita que sofre de uma intolerância ou alergia alimentar, fale com o seu médico assistente ou imunoalergologista.

 

Qual é o tratamento da alergia alimentar?

O tratamento da alergia alimentar consiste principalmente na evicção alimentar – a eliminação do alergénio da alimentação do doente. A eliminação do alergénio implica, portanto, a não ingestão de todos os alimentos que o contêm. Assim, por exemplo, alguém com alergia alimentar à proteína do leite de vaca não poderá consumir qualquer tipo de laticínios, bem como preparações culinárias que contenham leite ou derivados, como manteiga, queijo, iogurte ou natas. É de igual importância garantir que a dieta alimentar e a ingestão de nutrimentos não fica comprometida como consequência da evicção alimentar, devendo ser consumidos outros alimentos nutricionalmente equivalentes, mas que não contenham o alergénio.

Alergia versus intolerância alimentar:

Uma intolerância alimentar carateriza-se por uma reação adversa, reprodutível, que ocorre após a exposição a um determinado alimento. Ao contrário da alergia alimentar não envolve o sistema imunológico. A intolerância à lactose é um exemplo desta condição, que se caracteriza pela incapacidade do organismo digerir a lactose, um açúcar naturalmente presente no leite. As manifestações da intolerância à lactose incluem diarreia, flatulência e dor ou desconforto abdominal. Pessoas com intolerância à lactose, ao contrário da alergia ao leite, toleram, geralmente, iogurtes e leites fermentados, queijo, manteiga e outros derivados.

Alergia alimentar ao glúten versus doença celíaca:

A doença celíaca é uma doença autoimune que afeta entre 1-2 por cento da população e que se carateriza por uma reação imunológica contra o próprio intestino delgado perante a ingestão de glúten. O glúten é uma substância constituída por proteínas que se encontram naturalmente presentes em alguns cereais, nomeadamente o trigo, o centeio, a cevada e a aveia. A alergia ao trigo difere da doença celíaca, no sentido em que a primeira se trata de uma reacção imunológica contra o alergénio e não contra o próprio organismo. As manifestações clínicas desta doença incluem diarreia e dores abdominais, anemia, osteoporose, problemas neurológicos e alterações cutâneas.

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