Intolerância à lactose, o que deve saber

O melhor alimento para o recém-nascido é, sem dúvida o leite materno. Para além de corresponder às necessidades do bebé, o leite materno vai-se adaptando progressivamente às diversas etapas do crescimento.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, cerca de um terço da população Portuguesa sofre de intolerância à lactose. É, também, através do leite materno que o bebé recebe as suas primeiras defesas e assim fortalece o seu sistema imunitário, ajudando-o a defender-se de diversas patologias. Após a amamentação, a nossa relação com o leite continua, dado o seu extraordinário valor como alimento.
intolerância à lactose
Todavia, a intolerância à lactose implica desconforto abdominal após o consumo de leite ou outros alimentos com lactose.
Para conhecer melhor os sintomas e os seus efeitos, recolhemos a opinião da Dra Fernanda Cruz.
A intolerância à lactose é a condição que se refere aos sintomas decorrentes da mal digestão da lactose.
A lactose é o açúcar naturalmente presente no leite e nos seus derivados. Quando ingerimos lactose precisamos de uma enzima, a lactase, para podermos digerir e absorver este açúcar.
Se o nosso organismo deixa de produzir lactase ou produz em quantidade insuficiente, a lactose permanece intacta no intestino e dá origem aos sintomas de desconforto abdominal característicos da intolerância à lactose.
Os sintomas mais comuns incluem náuseas, cólicas intestinais, flatulência e diarreia, e têm início cerca de 30 minutos a 2 horas após o consumo da lactose.
A presença de sintomas e a intensidade dos mesmos depende da tolerância individual à lactose e da quantidade de lactose consumida.
Por isso, muitos intolerantes à lactose são capazes de beber um copo de leite sem manifestar quaisquer sintomas.
A maioria das vezes esta condição é determinada geneticamente e tem origem na diminuição da produção de lactase pelo organismo.
Desenvolve-se naturalmente, ao longo do tempo, desde a infância até à idade adulta e os sintomas tendem a manifestar-se mais na adolescência ou na idade adulta.
“As crianças que nascem prematuramente estão mais predispostas a ter deficiência de lactase porque os níveis desta enzima só aumentam a partir do terceiro trimestre de gravidez”

Alergia e intolerância à lactose:

Alguns casos de intolerância à lactose são identificados logo na primeira infância e muito raramente é congénita, quando a criança nasce já sem a capacidade de produzir lactase.
Nesta situação a criança apresenta sintomas de desconforto com o próprio leite materno, que também é fonte natural de lactose.
As crianças que nascem prematuramente estão mais predispostas a ter deficiência de lactase porque os níveis desta enzima só aumentam a partir do terceiro trimestre de gravidez.
A intolerância à lactose é uma condição permanente, mas também pode ser temporária se for consequência de uma lesão intestinal que prejudique a produção normal de lactase.
Quando a doença ou a lesão é curada ou controlada, a atividade da lactase é recuperada. Relativamente ao leite pode ocorrer alergia e intolerância, conceitos frequentemente confundidos, mas que definem duas condições completamente diferentes.
A alergia ao leite é, mais especificamente, alergia às proteínas do leite de vaca e a intolerância ao leite é a intolerância à lactose.
A intolerância à lactose é a condição que se refere aos sintomas decorrentes da mal digestão da lactose

Alergia às proteínas do leite de vaca:

– O que é?
Reação adversa a 1 ou mais proteínas do leite de vaca. Reação desadequada do sistema imunitário a estas proteínas.
Os sintomas da alergia podem envolver o sistema digestivo, respiratório, pele, etc. e se não for controlada pode interferir no desenvolvimento normal da criança.
– Quantidade consumida
Basta o consumo de quantidades vestigiais de proteína do leite de vaca para causar sintomas.
– Ocorrência
Ocorre principalmente na infância e em 80-90% dos casos a alergia é ultrapassada por volta dos 5 anos de idade.
– Cuidados
Leite e produtos lácteos estão completamente interditos, bem como qualquer alimento que os contenha como ingrediente.
A intolerância à lactose é uma condição permanente, mas também pode ser temporária se for consequência de uma lesão intestinal que prejudique a produção normal de lactase

Intolerância à lactose

– O que é?
Incapacidade para digerir corretamente a lactose. Reação não envolve o sistema imunitário.
Os sintomas envolvem apenas o sistema digestivo (geralmente desconforto abdominal, flatulência) e ocorrem em média 2 horas após a ingestão de lactose.
– Quantidade consumida
A presença e intensidade dos sintomas variam com a quantidade de lactose consumida, com o grau de insuficiência de lactase e com a composição nutricional do alimento ingerido.
– Ocorrência
A atividade da lactase pode diminuir a partir dos 3-5 anos, mas o mais comum é ocorrer na adolescência ou idade adulta.
– Cuidados
Pode consumir leite e produtos lácteos “normais” ou com teor reduzido de lactose ou sem lactose, consoante o grau de intolerância.
“ A forma de contornar facilmente a intolerância à lactose é uma dieta com teor reduzido de lactose ou sem lactose”

A importância do diagnóstico clínico:

Em crianças e adultos o diagnóstico de intolerância à lactose deve ser sempre feito pelo médico, evitando auto-diagnósticos, porque os sintomas são comuns a outras patologias e condições.
O médico pode servir-se de observação clínica e/ou testes de diagnóstico como o teste de tolerância à lactose (por análise ao sangue) ou o doseamento do hidrogénio no ar expirado.
Se o resultado for negativo deve redireccionar a pesquisa para outras causas possíveis dos sintomas. Se o resultado for positivo, a forma de contornar facilmente a intolerância à lactose é uma dieta com teor reduzido de lactose ou sem lactose.
O leite e os seus derivados são os principais fornecedores de lactose, mas a sua eliminação não é de todo recomendada.
Mesmo tentando compensar com outros alimentos, há risco de reduzir a ingestão de nutrientes essenciais característicos deste grupo de alimentos como: cálcio, potássio, fósforo, proteínas, vitaminas A, B2, B12 e niacina.
Felizmente, hoje em dia existem soluções lácteas com teor reduzido de lactose ou sem lactose, adequadas a todos os graus de intolerância à lactose, que permitem beneficiar das propriedades nutricionais dos lácteos, sem quaisquer sintomas.
Para indivíduos com maior grau de intolerância à lactose vale a pena ter atenção aos alimentos que podem conter leite ou derivados como ingrediente, mesmo em pequenas quantidades, e ler atentamente o rótulo.
Exemplos destes alimentos são: pães e produtos de panificação, cereais de pequeno-almoço, sopas instantâneas, refeições pré-cozinhadas, margarinas, molhos, bolos, rebuçados, etc.
Texto: Dra Fernanda Cruz, Nutricionista Centro de Nutrição e Alimentação Mimosa

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