Ir a um Psiquiatra… ou a um Psicoterapeuta? Qual o melhor para cada situação?

Nunca houve tanto a dizer sobre a saúde emocional, o bem estar físico e mental e a importância da sintonia entre corpo e mente…

Há escaparates nas livrarias repletos de livros de auto-ajuda, abundam programas na rádio e na televisão sobre estes temas, as grandes multinacionais promovem workshops de meditação para os funcionários… Há um deslumbramento com a emergência de fórmulas para “Mudar a Vida”, “Como Alcançar a Felicidade”, como chegar à paz interior e à serenidade.

O Bom, o Mau e o Feio…

O lado bom disto, é a abertura das pessoas para novas possibilidades de se encontrarem a si próprias e a consciência de que podem fazer diferente. Compreenderem que têm escolhas e possibilidades, que têm na sua mão as rédeas da sua vida, para além das circunstâncias em que se movem. O lado mau, é a utilização de uma série de recursos de forma supersticiosa e infantil, como se fosse fácil ou mágico encontrar a realização pessoal ou o caminho do sucesso, seja este o que for; como se fosse só “querer”, ou só concentrar-se num objectivo.

O lado feio, é o aproveitamento desta tendência para fins sobretudo comerciais que, à margem de uma abordagem séria e fundamentada, exploram a urgência, ou seja, o impulso de querer resolver tudo já, agora e depressa, divulgando receitas e mezinhas e endeusando gurus, como se de um dia para o outro e sem um profundo trabalho interior as coisas mudassem.

E isto é tão mais espantoso quanto verifico que grande parte das pessoas nem sequer sabe o que é uma psicoterapia! Em face de uma crise pessoal, uma depressão, por exemplo, só recorrem a ajuda especializada in extremis, quando já em desespero. A saúde emocional está estreitamente relacionada com a saúde física e isto não é novidade. Os estragos de protelar um pedido de ajuda a especialistas podem ser devastadores a nível pessoal, familiar e profissional.

 

Então, o que é uma psicoterapia e o que é um psicoterapeuta?

Uma psicoterapia, como o nome indica, é uma terapia, uma terapia psicológica, portanto, um processo que trata e, potencialmente, cura. Que actua nos sintomas e/ou na sua origem, por forma a eliminar ou dissipar os padrões neuróticos da personalidade e do comportamento; substituindo-os por outras formas de perspectivar e vivenciar. Outras formas de estar na vida, outras formas de nos vermos a nós mesmos. É uma revolução emocional. Um processo que exige algum tempo, pois os nossos padrões emocionais não se transformam no dia em que os percebemos. É a partir daí que o verdadeiro trabalho psicoterapêutico começa.

Um Psicoterapeuta não é a mesma coisa que um psicólogo. Um psicólogo apenas tirou o curso de Psicologia. Na linguagem corrente é comum dizer-se “consultar um Psicólogo” mas, na realidade, trata-se de um Psicoterapeuta. Há várias áreas dentro da Psicologia e encontramos psicólogos nos Recursos Humanos das empresas, nos testes psicotécnicos e vocacionais e em várias outras funções. Mas o psicólogo clínico, o tal que consultamos em sessão privada, para dar início a uma psicoterapia tem de ter uma formação específica: um Psicoterapeuta tem de ter passado pelo próprio processo, ser submetido a uma psicoterapia para viver o que realmente isso é: para se confrontar com os seus medos e receios, para aprender a não misturar as suas questões pessoais com as questões dos seus “pacientes”, para não fazer nem juízos morais nem quaisquer outros, em alguma circunstância, e para cultivar a entrega ao outro, a empatia. E, para adquirir conhecimento sobre a forma de abordar cada problemática, cada caso, e providenciar ajuda efectiva.

Que ajuda efetiva é essa?

É um colo. É uma relação que permite a exposição total de tudo o que nos faz sofrer, para retomar o verdadeiro querer, esquecido ao longo da vida. É ir aos conflitos, dizer-lhes “olá, como é melhor ultrapassarmos isto?”, sem medo do que o pai, a mãe, ou a sociedade pensam.  É difícil explicar, mas trata-se de uma busca de clarividência, a partir da qual, então, se pode mudar.

Existem abordagens diferentes, no âmbito da Psicoterapia para esta busca. Tratam-se de portas de entrada para ajudar a resolver conflitos. Umas, mais comportamentais, como acontece com o medo de andar de avião, por exemplo, ou o medo de estar em situações sociais, rodeado de gente… Outras abordagens procuram ir à origem do “problema”, à causa. E, mais recentemente, abordagens que integram o corpo, na medida em que as tensões emocionais se reflectem em tensões corporais.

 

Quando se deve consultar um Psicoterapeuta ou um Psiquiatra?

Um Psiquiatra é um médico. O apoio psiquiátrico às perturbações mentais ou emocionais passa por um diagnóstico preciso e pela aplicação da medicamentação adequada. Há pessoas que necessitam desta medicamentação que providencia um equilíbrio químico para determinados quadros de ansiedade ou de mania ou de depressão, sem os quais a pessoa fica disfuncional. Há quadros claramente psiquiátricos, em que é absolutamente necessária a intervenção medicamentosa e em que não há psicoterapia que valha.Há quadros em que uma terapia combinada entre apoio psiquiátrico e a psicoterapia é o mais eficaz. Há outros que não. Ou psiquiátricos, ou psicoterapêuticos.

Mas, se nos sentimos em sofrimento, se não estamos bem com a vida que vivemos, se “a cabeça não para”, se sentimos culpa de tudo, se não conseguimos dormir, bom… é mesmo altura de consultar um Psi. Um psicoterapeuta identifica a necessidade de um consulente ter de recorrer a um psiquiatra como um psiquiatra deverá identificar a necessidade de um paciente recorrer a um psicoterapeuta.  Um dos receios mais comuns é o de ficar “agarrado” ao psicoterapeuta, dependente; mas há que lembrar que consultar um Psicoterapeuta não implica “casar-se” com ele. Se não houver entendimento e empatia… deixêmo-lo sem culpas. E quando não precisamos mais dele, vamos à nossa vida. E um psicoterapeuta como deve ser vai ficar feliz com isso.

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