Perturbações de personalidade. Quem sou eu?

Como lidar com problema de Perturbações de personalidade

A personalidade é definida pela totalidade dos nossos traços emocionais e do nosso comportamento. Pode-se dizer que é o nosso modo de ser, de sentir e de agir. Mas quando esses traços são muito inflexíveis e limitam a forma de lidarmos com o quotidiano, podem prejudicar a nossa adaptação e dificultar o estabelecimento de relações e a manutenção de uma vivência satisfatória. Nesses casos podemos estar perante uma perturbação de personalidade.

Nos últimos anos as Perturbações de Personalidade assumiram um papel preponderante, tendo sido realizados vários estudos nos domínios da Psicologia Clínica e da Psiquiatria pela sua elevada prevalência na população geral e pelo reconhecido impacto moderador da personalidade na adesão aos tratamentos farmacológicos e/ou psicoterapêuticos.

Efetivamente, já em 1980, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) define a categoria de perturbações de personalidade em secção própria do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, conceptualizando-as como “entidades diagnósticas distintas”. Esta distinção sinalizou um crescente reconhecimento da relação bidirecional entre os traços de personalidade, a etiologia e o desenvolvimento de tipos específicos de psicopatologia.

A personalidade pode ser definida como uma combinação de traços psicológicos enraizados que contém dimensões não conscientes e que se manifesta no modo como a pessoa pensa, sente, se comporta e se relaciona com os outros.

As perturbações de personalidade podem ser descritas como padrões duradouros, estáveis e inflexíveis de experiências internas e de comportamento que se afastam expressivamente das expectativas da cultura em que a pessoa se insere, resultando numa diminuição severa da sua funcionalidade e num mal-estar significativo. Tendem a emergir durante a infância tardia, adolescência ou início da idade adulta, sendo que o diagnóstico precoce tem um impacto muito positivo no curso do tratamento clínico.

São atualmente descritas em 10 categorias divididas em 3 agrupamentos segundo características sintomatológicas partilhadas: o primeiro inclui as perturbações caracterizadas pela excentricidade e peculiaridade do comportamento e por uma tendência para a desconfiança e, consequentemente, para o isolamento social (esquizóide, esquizotípica e paranóide); o segundo, compreende as que se caracterizam pela tendência para o comportamento dramático, impulsivo, emotivo e lábil e por uma diminuição da capacidade empática (anti-social, borderline, histriónica e narcísica); e o terceiro, as que se caracterizam pela ansiedade e apreensão (dependente, evitante e obsessivo-compulsiva).

 

Como lidar com o problema

O diagnóstico de Perturbação de Personalidade é extremamente complexo, nomeadamente pela comum sobreposição de sintomas característicos de diferentes perturbações de personalidade e pela comorbidade com outras psicopatologias, como por exemplo as perturbações do humor ou de ansiedade.

Falar do trabalho psicoterapêutico nas perturbações de personalidade é constatar que muitos destes padrões rigidificados e inflexíveis constituem um grande desafio para o paciente e psicoterapeuta no que diz respeito à aquisição e manutenção de mudanças cognitivas, emocionais e comportamentais. Esse desafio nasce, também, do facto de grande parte das perturbações de personalidade terem raízes neurobiológicas, além das ambientais. O papel da aliança terapêutica é então decisivo: o acordo de tarefas, objetivos e o laço emocional entre paciente e psicoterapeuta ditarão a eficácia do processo psicoterapêutico.

De igual modo, o formato da intervenção é também uma decisão a ter em atenção já que a psicoterapia individual, a conjugal, a familiar e a de grupo apresentam evidências claras que sustentam a sua utilidade neste tipo de casos.

Qualquer psicoterapeuta sente, ao longo da sua carreira, que a psicoterapia com perturbações de personalidade é um processo que exige muito de si do ponto de vista técnico mas também humano: tolerar a frustação pode ser uma dessas exigências já que o progresso do paciente pode ser lento e pautado por vários retrocessos e, até, por ruturas de aliança terapêutica. O foco deverá ser as micromudanças que ocorrem durante o acompanhamento psicoterapêutico, investigando-se o que terá contribuído para uma recaída a nível individual mas também sistémico.

A finalizar, sublinhamos as estratégias de autorregulação como fulcrais neste tipo de intervenção, procurando trabalhar-se, em sessão, formas do paciente lidar com o desconforto sentido e que poderá usar no seu dia-a-dia em situação de crise. Por reconhecermos a complexidade destes casos, a Psinove integra uma equipa especializada, apresentando serviços para uma intervenção multidisciplinar, integrativa, eclética e rigorosa no trabalho com as perturbações de personalidade, que tem tanto de desafiante como de gratificante.

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