Terapia hormonal de substituição, uma aliada na menopausa

Menopausa. A palavra tem o seu quê de intimidatório. Sabemos, em termos simples, o que significa: o fim do período fértil da mulher. Mas a menopausa, embora marque um período natural na vida da mulher, implica uma transição que pode ser difícil. A terapia hormonal de substituição procura ajudar nesta fase de mudança.

A entrada na menopausa é um passo inevitável na vida de uma mulher. Mas embora seja um processo natural, a verdade é que implica uma série de alterações no corpo e no estado emocional da mulher, que fazem com que o processo possa ser tudo menos fácil.

A terapia hormonal de substituição surgiu para compensar as mudanças do ponto de vista hormonal que surgem nesta fase. E, lá está, tornar as coisas um pouco mais fáceis para a mulher. Trata-se de uma terapia que intervém a um nível fisiológico, visando, como nos explica a ginecologista-obstetra Fernanda Águas, “substituir os efeitos das hormonas produzidas pelos ovários a nível dos diferentes órgãos ou tecidos, onde existem recetores para essas mesmas hormonas”.

tratamento menopausa

Este impacto sente-se a diferentes níveis. Em termos de saúde, a ginecologista-obstetra explica-nos que há comprovados benefícios “noutros sistemas do organismo humano”, seja a um nível ósseo, tendo impacto na “diminuição da perda de massa óssea e na redução das fraturas osteoporóticas”, seja a um nível vascular, já que se “iniciada precocemente após a menopausa, a terapêutica hormonal tem um efeito protetor vascular e também um efeito protetor sobre o envelhecimento do sistema nervoso”.

Mas atenção: há mais benefícios além dos que dizem respeito à saúde. Fernanda Águas explica-nos que o tratamento hormonal também tem “efeitos positivos a nível da pele e das mucosas, aumenta a espessura, a elasticidade e a resistência, devido sobretudo à sua ação a nível do colagénio”. Tem, do ponto de vista estética, uma outra vantagem, que naturalmente faz parte das preocupações de muitas mulheres: é um tratamento que não só não engorda, como contraria um dos efeitos das alterações hormonais pós-menopausa, a alteração na distribuição da gordura corporal, favorecendo o chamado “padrão ginóide [forma de pêra], considerado mais feminino e consequentemente esteticamente mais adequado”, como nos especifica a especialista.

Finalmente, embora o tratamento não tenha um impacto direto na líbido feminina, Fernanda Águas realça que pode haver melhorias ao nível dos tecidos dos órgãos sexuais femininos, pelo que “pode contribuir para que estejam criadas as condições para um desempenho sexual satisfatório”.

Resumidamente, a terapia hormonal de substituição procura assim diminuir o impacto da menopausa sobre o organismo, bem como a influência desta no bem-estar da mulher. Mas por que razão é tão importante fazer um acompanhamento adequado de algo tão inevitável quanto natural como é a menopausa?

 

Enfrentar a menopausa com bem-estar

Nesta fase de climatério (período de transição da pré-menopausa até à pós-menopausa), em que são dão estas mudanças hormonais, algumas mulheres poderão queixar-se dos mais diversos sintomas relacionados com a menopausa como: Insónias, alguma irritabilidade, alterações ao nível da memória e da capacidade de concentração são alguns desses sintomas mas talvez o mais “célebre”, passe o termo, sejam mesmo os chamados afrontamentos.

Estes podem ser descritos como súbitas ondas de calores, desconfortáveis, às quais geralmente se seguem suores. Surgem também com uma frequência muito variável. Podem acontecer uma vez por semana a uma mulher, enquanto a outra podem surgir mais do que uma vez por dia. Podem também acontecer de dia ou durante a noite – e se aos afrontamentos se seguirem suores noturnos, então o impacto pode até afetar o sono, como alerta a ginecologista-obstetra.
Tudo isto faz com que além de incómodos possam ser particularmente inoportunos. Mas por que razão isto acontece?

A menopausa propriamente dita surge com o fim da última menstruação. Apesar de tudo, o mais vulgar é que as últimas menstruações já tenham um fluxo, duração e intervalo variáveis, e que algumas mulheres já sintam sintomas ainda antes daquela que será a sua última menstruação.

Ora com a idade, os ovários vão gradualmente deixando de funcionar, e o que está em causa nesta mudança é que, à medida que o organismo vai deixando de libertar óvulos mensalmente, deixa também de produzir estrogénio, a hormona feminina.

É precisamente a ausência do estrogénio que facilita o aparecimento dos sintomas que acima descrevemos. Não se pense, porém, que se trata apenas de uma questão de maior ou menor conforto. Não é assim tão pontual. A verdade é que esta mudança na produção de estrogénio pode ter influência no organismo, aumentando o risco de problemas cardiovasculares e facilitando o surgimento da osteoporose.

 

Cuidados a ter na menopausa

Sabemos que o cenário até agora descrito não tornou a palavra menopausa menos intimidatória. Mas é precisamente percebendo o que a menopausa pode implicar, que ficamos a conhecer as vantagens desta terapia hormonal de substituição, que surgiu quer para atenuar as manifestações que podem surgir no climatério, quer para limitar as repercussões a médio e longo prazo. Não se pense, porém, que o tratamento serve para todos os casos.

Fernanda Águas explica-nos que há situações em que esta terapêutica está contraindicada, como nos casos em que há “antecedentes de tumores hormono-dependentes, como por exemplo o cancro da mama, doenças cardiovasculares graves ou descompensadas, antecedentes de trombo-embolismo, antecedentes de acidente vascular cerebral ou até em casos de doença hepática aguda ou descompensada”.

A ginecologista especifica ainda que doenças crónicas como a diabetes não constituem uma contraindicação, exceto “quando se trata de situações graves em que estão atingidos o sistema vascular ou órgãos nobres como o coração e os rins”. Quer isto dizer que o iniciar desta terapêutica vai depender sempre da opinião médica e da subsequente avaliação. Mas tal como os benefícios suplantam os riscos, também podemos considerar que já há mais facilidades do que dificuldades, para quem quer seguir esta via.

Nos cerca de 50 anos de existência a terapêutica hormonal já sofreu muitos altos e baixos em termos de utilização. Como em tantas outras áreas da saúde, houve desenvolvimentos, novas investigações, e chegamos aos dias de hoje com uma perspetiva muito mais positiva sobre esta terapêutica.

Atualmente, explica-nos Fernanda Águas, a terapia hormonal de substituição já é “muito acessível do ponto de vista económico, podendo trazer à mulher enormes benefícios em termos de saúde e de bem-estar”. Além do mais, em termos de rotina, a terapia hormonal de substituição normalmente implica o simples “hábito de tomar diariamente um comprimido ou então, aplicar, semanal ou bissemanalmente, um adesivo”.
Mas se é tão simples assim, o que falta então? Sem dúvida que mais e melhor informação, não apenas sobre esta terapia mas sobre o que a menopausa pode implicar, em termos de impacto na saúde e bem-estar da mulher, para que todas as mulheres que estejam em condições de seguir esta terapêutica possam tomar a sua decisão livre e esclarecida.

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