Gravidez aos 40 anos

Se é verdade que uma parte expressiva das gravidezes depois dos 40 anos decorre tranquilamente, não é menos verdade – aliás está comprovado – que uma gravidez tardia corresponde a riscos mais elevados. Um risco que, por agora, pode ser controlado com um bom acompanhamento médico e para o qual a ciência procura soluções.

Conquistar uma posição estável no mercado de trabalho pode ser demorado e encontrar o parceiro ideal também. Por opção ou pelas circunstâncias da vida, hoje, o sonho da maternidade vai sendo cada vez mais adiado e um dia, damos conta, e temos 40 anos.

Teresa Marujo foi mãe pela 1ª vez aos 40 anos. O casamento e a maternidade nunca tinham sido prioridades na sua vida, estava focada sobretudo no trabalho. Mas mudou de opinião e de perspetiva quando conheceu o atual marido e, passados três anos de casamento, acharam que estava no momento de tentar uma gravidez.

Mas que riscos acrescidos tem realmente uma gravidez tardia?De acordo com Diogo Ayres de Campos, ginecologista-obstetra do Hospital de S. João, “a idade é por si só um fator de risco sobretudo para a hipertensão e diabetes na gravidez, para o parto prematuro, para a cesariana, para os riscos de abortamento e malformações cromossómicas do feto.” Resumindo, a gravidez após os 40 anos é sempre considerada de maior risco do que quando ocorre em idades inferiores.

No caso de Teresa Marujo, à exceção de um aumento da tensão arterial já no final da gestação, nada disso aconteceu: a gravidez correu bem e o filho nasceu saudável às 38 semanas, de parto natural. O seu obstetra nunca a alarmou por causa da idade, e apesar de ter sido encaminhada para o Hospital Universitário de Coimbra para fazer a amniocentese, Teresa e o marido decidiram não a realizar já que o rastreio bioquímico não indicava alto risco de malformações e o procedimento envolvia um risco de aborto.

De resto, segundo Diogo Ayres de Campos, embora a possibilidade das complicações acima descritas impliquem uma vigilância mais apertada da gravidez, não é necessário utilizar por rotina exames diferentes dos que são realizados nas grávidas mais jovens. “Particularmente em relação ao risco de malformações cromossómicas, não se justifica atualmente a realização, por rotina, de técnicas invasivas de diagnóstico pré-natal nas mulheres com mais de 40 anos”, explica o obstetra, referindo-se entre outros exames à amniocentese.

Já Lúcia Neves depois de uma gravidez aos 30 anos e de outra aos 34, foi mãe da sua terceira filha dois meses antes de completar 41 anos. “Esta terceira gravidez foi vivida de uma forma muito diferente das outras não pela idade, mas pelo facto de antes desta gravidez ter perdido dois bebés, um às 12 semanas e outro às 8 semanas”, conta Lúcia.

Na verdade, embora os motivos que podem conduzir a um aborto espontâneo sejam variados e por vezes difíceis de determinar, sabe-se que a idade materna é um fator de peso. De acordo com os dados da American Pregnacy Association, as mulheres com idade inferior a 35 anos de idade têm cerca de 15% hipóteses de sofrer um aborto espontâneo, um valor que aumenta para os 20-35% entre os 35 e os 45 anos e que alcança uma taxa de 50% partir dos 45 anos.

Apesar do medo constante de ver estas situações repetirem-se pela terceira vez, Lúcia refere que fisicamente foi a gravidez em que se sentiu melhor, apesar de trabalhar todo o dia e ter duas crianças para cuidar.

Maternidade tardia – duas perspetivas

 

Sylvia Ann Hewlett, economista norte-americana, foi mãe pela primeira vez aos 51 anos. Escreveu o livro “Maternidade tardia – mulheres profissionais em busca da realização plena” (não publicado em Portugal), onde defende que a maternidade tardia é resultado sobretudo da aposta que as mulheres fazem na sua carreira profissional.

O livro contém várias entrevistas a mulheres bem sucedidas profissionalmente, que ocupam cargos de topo, trabalham 12 horas por dia, viajam constantemente e declaram que, pura e simplesmente, não têm tempo para vida familiar no meio da tentação das promoções e melhores salários. Reflete ainda  sobre o facto de muitas mulheres chegarem aos 40 anos e nesta altura em que começam a tentar engravidar surgirem os problemas em consegui-lo por causa da idade.

Já a investigadora britânica Kirsty Budds defende que as mulheres que se tornam mães pela primeira vez numa idade mais tardia não o fazem necessariamente em consequência de uma escolha de estilo, como por exemplo a carreira profissional, mas antes como resultado de decisões ponderadas e circunstâncias de vida, tal como ter o parceiro certo e uma situação financeira estável.

Atualizado a:

você pode gostar também