A dor e o exercício físico

A dor aguda é um sinal de alerta pelo que é importante para a nossa sobrevivência.

Quando sentimos dor, desencadeada externa ou internamente, conseguimos reconhecer sinais de alerta e adotar posturas de proteção e defesa.

Durante a prática de exercício físico, a dor aguda é um sinal essencial para alertar para a existência de lesões e promover atitudes de proteção adequadas. Contudo, é do conhecimento geral que durante a prática de exercício físico, por vezes, não se consegue uma deteção adequada da dor, apesar da existência de lesões que a justificariam.

O conhecimento empírico desta situação em que o desportista é incapaz de detetar “a quente” a sua dor, explica-se por mecanismos neurobiológicos conhecidos. A prática de exercício físico leva à libertação de neurotransmissores da família dos opióides (as endorfinas). Além de promoverem uma sensação de prazer, as endorfinas inibem a transmissão nervosa de sinais de dor.

Os níveis de endorfinas em circulação podem manter-se elevados até 72 horas após a prática de exercício físico, explicando situações em que o desportista só é capaz de reportar a existência de lesão, ou aferir a sua magnitude, algum tempo após a prática da atividade desportiva.

Estudos recentes mostraram que a prática desportiva de alta intensidade pode afetar a forma como se sente a dor. Desportistas que praticam modalidades de grande intensidade e impacto, como por exemplo, atletas de triatlo, têm uma menor sensibilidade à dor, mesmo quando não estão a praticar exercício físico.

Demonstrou-se em estudos imagiológicos que o aumento da tolerância à dor se deve a alterações na atividade de centros encefálicos (cerebrais) onde se controla a dor. Estes achados levam a discutir se a maior capacidade de tolerar a dor confere aos referidos atletas uma mais-valia para tolerar as elevadas exigências que algumas modalidades apresentam a nível da capacidade de tolerar o sofrimento físico. O estudo da atividade cerebral de desportistas de alta competição pode levar a questionar a noção de que a dor é sempre um sinal vital na prática de exercício físico.

Por outro lado, e no contexto das sociedades modernas cada vez mais afetadas pela dor crónica, importa analisar a interação entre exercício físico e dor crónica. Considera-se que a dor crónica é aquela que persiste além de três meses após a extinção da causa que lhe deu origem.

A dor crónica afeta cada vez mais pessoas nas sociedades modernas devido a múltiplos fatores. O envelhecimento da população mas também o sedentarismo são frequentemente apontados como causas do aumento da prevalência de dor crónica.

Está demonstrado que a prática de atividade física regular é benéfica no contexto do controlo da dor crónica. Estudos realizados em modelos animais, mostraram que o aumento da atividade física leva à libertação de neurotransmissores (opióides e monoaminas) que bloqueiam a transmissão da dor. Sabe-se que estes neurotransmissores podem ter uma dupla ação.

Os opióides e as monoaminas inibem a transmissão da dor e as monoaminas podem contribuir para melhorar o estado depressivo. Estudos efetuados em doentes com dor crónica, comprovam os resultados obtidos em modelos animais, mostrando que há claro benefício na implementação de atividade física ajustada à situação de cada doente.

Para além do controlo da dor, a atividade física pode ajudar a prevenir atrofia muscular e degeneração articular, que exacerbam alguns tipos de dor (ex. dor osteoarticular). Estes dados que mostram os benefícios da atividade física no controlo e prevenção da dor crónica justificam um dos lemas da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED): “Mova-se contra a Dor”!

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