Comer menos e melhor, para viver mais tempo
Viver mais tempo será apenas uma questão de hábitos alimentares e cuidados com a saúde?
Muitas pessoas questionam, se a longevidade nasce connosco ou se somos nós que a manobramos com os nossos hábitos de vida. Será que nascemos centenários ou nos tornamos centenários graças à forma como vivemos?
É do conhecimento comum que são bastante raras as pessoas que chegam a soprar as suas 100 velinhas de aniversário ou mais, mas essas pessoas foram programadas após a nascença, ou devem isso ao seu estilo de vida?
Apesar de na realidade a ciência não ter ainda a resposta concreta e definitiva, os especialistas apontam que é provável que estes dois factores estejam a par. Durante muito tempo acreditava-se que a Geórgia e a Arménia detinham o recorde de longevidade (mais de 150 anos em certas regiões!), o mito desmoronou-se quando se soube que acolá o estado civil não existia…. Com efeito, foi uma francesa que alcançou o recorde da longevidade; trata-se de Jeanne Calment, nascida em Arles a 21 de Fevereiro de 1875.
Mas afinal qual é o segredo de uma vida assim tão longa?
Será que é suficiente, como dizem algumas pessoas, levantar cedo, trabalhar muito, comer pouco, não ingerir álcool e não fumar? Ou, pelo contrário, trabalhar o menos possível e fazer grandes festins?
Os pesquisadores do National Centenarian Awareness Project (EUA), experimentaram fazer um retrato robot do ultra-centenário. Segundo as estatísticas, ele, ou ela, não sofreu choques violentos no decorrer dos seus primeiros 40 a 50 anos, trabalhou muito e continua a fazer o mesmo após os 100 anos, mas continua a praticar uma actividade física regular e não despreza as grandes caminhadas.
Mas a sua característica principal é a frugalidade da sua alimentação. À mesa, com efeito, ele, ou ela, come pouco e o seu regime alimentar é hipocalórico, são e equilibrado. A sua refeição típica? Come um pouco de tudo, especialmente fruta e legumes e o seu jantar é ligeiro. As frutas e os legumes têm o primeiro plano na sua alimentação, pois são naturalmente ricos em antioxidantes: vitaminas C, E e o betacaroteno.
Os antioxidantes naturais previnem o envelhecimento e reduzem a quantidade de radicais livres, responsáveis pela morte das células. No Centre on Aging (Centro sobre o Envelhecimento) da Universidade Tufts de Boston, os frutos e os legumes foram classificados segundo as suas propriedades antioxidantes. Na categoria dos frutos, as melhores variedades são o mirtilo, a amora e o morango, seguidos pela laranja, o kiwi, a banana, a maçã e a cereja. Entre os legumes, a couve, a cenoura, a abóbora, os espinafres, os brócolos e a beterraba. E ainda: o alho, a cebola, a batata, o arroz e o trigo.
“Manter-se jovem é uma arte reservada a poucas pessoas…” disse Goethe a Fausto. Esta afirmação era, talvez, válida no tempo do poeta: nos sécs. XVIII e XIX, a esperança de vida era de 35 anos. Hoje em dia isso é obsoleto. Visto que agora a genética nos prova que com um pouco de boa vontade, todos nós podemos chegar à velhice com boa saúde.
A primeira boa notícia vem-nos de uma equipa de pesquisadores, na Universidade Americana do Wisconsin, que observou mudanças genéticas nas cobaias mais velhas. Ao associar uma técnica genética sofisticada a um regime de restrição alimentar, estes cientistas, dirigidos por Thomas Prolla e Richard Weindruch, estudaram as modificações da actividade dos genes em dois grupos distintos de cobaias, o primeiro submetido a um regime alimentar normal, o segundo submetido a uma restrição calórica de 25%.
Com a ajuda de um poderoso laser a equipa do Dr. Prolla fez um “scanning “ de milhares de genes de ratos e descobriu que só um pequeno número entre eles (menos de 2%) variava com o envelhecimento. Estes genes, nos ratos submetidos a um regime hipocalórico, sofriam apenas variações mínimas; concluiu-se que é deste pequeno número de fragmentos de ADN que dependem as funções essenciais tais como a produção de energia, a reacção ao stress, a reparação das proteínas.
Retardar o metabolismo
Mas qual é a relação entre actividade genética e o regime alimentar? O Dr. Weindruch tem ideias claras sobre este assunto: “A hipótese – considerada antes com cepticismo – é que um regime hipocalórico retarda o metabolismo.” Na prática, as modificações químicas que têm lugar no organismo, precisamente o metabolismo, produzem uma certa quantidade de lixo (os radicais livres) que danificam as proteínas, induzindo certos genes a reparar os danos. No entanto, com o tempo, estes perdem as suas capacidades “profissionais”, o que facilita o processo de envelhecimento. Uma vez que o metabolismo afrouxa, o “stress” dos genes diminui e eles podem trabalhar mais tempo.
Naturalmente, estudos mais aprofundados deverão demonstrar que estes mecanismos se manifestam do mesmo modo nos seres humanos; tal como deverá ser verificada, ainda que pareça dado adquirido, a teoria que tem em conta os factores hereditários que influenciam, em cerca de um quinto, a nossa esperança de vida. As mitocôndrias, a que os cientistas chamam também “círculos mágicos”, desempenham igualmente um papel chave no processo do envelhecimento.
Contrariamente ao código genético do núcleo da célula, que tem a forma de bastonete com dupla hélice, o ADN das mitocôndrias tem a forma de círculo e só se herda do lado materno, pois o espermatozóide perde–o no momento da penetração do óvulo (aqueles cuja mãe viveu muito tempo, estarão em vantagem?).
As mitocôndrias são o centro energético da célula: é nelas que se produzem as reacções da “cadeia respiratória”. Imersas em citoplasma – o meio da célula que faz lembrar o núcleo – elas fornecem-lhe o oxigénio, o carburante necessário para o seu funcionamento.
Guglielmo Scarlato, neurologista na Universidade de Milão, com Giuseppe Atardi, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, estudou o fenómeno num grupo de centenários: “No envelhecimento, as mitocôndrias trabalham menos, afirma ele. Elas produzem menos energia em todos os órgãos, dando assim lugar aos fenómenos de oxidação.
Um dos nossos objectivos é modificar o metabolismo das mitocôndrias para evitar os danos que se produzem com a idade.” O aprofundamento desta tese pode trazer novas esperanças, principalmente no que diz respeito ao tratamento das doenças neurodegenerativas: síndroma de Down, doenças de Alzheimer e Parkinson, esclerose lateral amiotrófica. Todavia, todos os especialistas do envelhecimento concordam em dizer que se nós sobrecarregamos de trabalho os “lixeiros” do nosso corpo, eles entrarão na pré-reforma.
Tudo o que nós devemos fazer é facilitar-lhes a tarefa, adoptando um estilo de vida sóbrio, parecido com o dos centenários entrevistados no quadro americano National Centenarian Awareness Project (Projecto de Consciencialização dos Centenários Americanos), manter uma actividade profissional o máximo de tempo possível, praticar uma actividade física regular, não fumar, comer pouco (principalmente ao jantar), comer muitas frutas e legumes, ricos em antioxidantes (vitamina A, E e betacaroteno), que são os assistentes naturais dos nossos amigos “lixeiros”..
Texto de: Maxime Ilari Urbinati
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