AVC, saber prevenir e saber agir – Sintomas de AVC – Acidente Vascular cerebral
Como prevenir AVC e o que fazer num caso de Acidente Vascular cerebral
Em média, 50 portugueses dão entrada todos os dias nos hospitais vítimas de acidentes vasculares cerebrais (AVC) – a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. Os fatores de risco, prevenção e sinais de alarme ou sintomas de avc, ainda não são claros para todos. Fique a conhecê-los.
Os sintomas de AVC mais comuns e mais identificáveis são os chamados 3 F. A saber – como nos explica o neurologista Fernando Pita: Face (assimetria da face), Força (falta de força num braço ou lado do corpo) e Fala (alteração da fala). Os acidentes vasculares cerebrais com sintomas discretos e impercetíveis ou dos quais o doente não se apercebe (anosognosia) existem, mas são a exceção. Como alerta o neurologista, ao ser constatado pelo doente, familiares ou acompanhantes qualquer um destes sintomas, a atitude correta é ligar imediatamente para o 112 – e não tentar dirigir-se ao hospital pelo seu próprio pé ou levado por familiares.
Em termos simples, um AVC isquémico (o mais frequente) é caracterizado pela obstrução de uma artéria por um trombo, ou seja, um coágulo que fica preso junto à parede arterial, bloqueando assim a passagem de sangue, o que impede a oxigenação cerebral. A demora no início da terapêutica pode implicar maior número de células cerebrais irremediavelmente perdidas, um maior comprometimento neurológico e uma maior probabilidade de sequelas graves. Não é por isso demais frisar que, a suspeita de AVC é uma emergência médica, pelo que a rapidez é essencial: tempo é cérebro. Mais: a terapêutica trombolítica (medicamento administrado para desfazer o coágulo) está aprovada apenas até às quatro horas e meia de evolução de sintomas, o que torna tão importante a chamada para o número de emergência o mais rapidamente possível.
Como esclarece Fernando Pita, a terapêutica trombolítica “infelizmente não é uma garantia de escapar às sequelas, mas sabemos que, usada ‘a tempo’, diminui a incapacidade e a dependência dos doentes, mesmo que não reduza a mortalidade. Sabemos também que quanto mais cedo for utilizada, melhores serão os resultados – este é o conceito por trás do ‘tempo é cérebro’.”
Via Verde para o AVC
Porque o tempo é crucial, foi criada em Portugal, em 2006, a Via Verde AVC (VVAVC) para a qual, de acordo com dados do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), já foram encaminhados quase 19 mil doentes. Ativada através do número de emergência 112, a VVAVC consiste numa estratégia organizada para a abordagem, encaminhamento e tratamento mais adequado da doença, que começa na chamada telefónica do cidadão. Para que seja ativada é necessário que o doente preencha vários critérios: idade inferior a 80 anos (a medicação trombolítica não foi testada além desta idade), instalação súbita de pelo menos um dos 3 F’s, os sinais ou sintomas terem menos de quatro horas e meia e não haver dependência de terceiros. Cumpridos estes critérios, o protocolo é acionado, envolvendo o transporte via INEM: “eventual tratamento pré-hospitalar, adequado encaminhamento para o hospital com as melhores condições de confirmação do diagnóstico, tratamento subsequente e disponibilidade logística para a receção do doente”, explica um estudo de avaliação deste protocolo.
Assim, prevenido o serviço de urgência, quando o paciente dá entrada através desta via ou estes sintomas são identificados já no hospital, como nos explica Fernando Pita, é feita de imediato uma TAC crânio-encefálica, “minimizando o tempo entre a entrada do doente na urgência e o início da terapêutica trombolítica (o chamado tempo porta-agulha).”
Por norma, os doentes com AVC não são submetidos a cirurgia. O neurologista João Martins refere, no entanto, que esta pode ser necessária “em casos de AVC isquémico ou hemorrágico extenso, quando surge edema e hipertensão intracraniana de difícil controlo, sendo necessária a descompressão cerebral. Estas situações são felizmente pouco frequentes.”
O neurologista menciona ainda que existe um procedimento não cirúrgico, mas antes radiológico, através do qual é possível entrar na artéria com um dispositivo, ir até ao local da oclusão e remover ou dissolver o trombo. Esta intervenção é usada em casos nos quais se identifica um trombo intra-arterial que provoca o AVC, em doentes que cumpram determinados critérios específicos.
Como prevenir o acidente vascular cerebral AVC
Além de saber agir quando o pior acontece, é importante, tanto quando possível, saber prevenir. O AVC tem vários fatores de risco identificados, muitos deles que podemos controlar. O neurologista João Martins adianta-nos que “temos de ter em conta que existem fatores de risco não modificáveis e que, por isso, não dependem do nosso controlo, como a idade avançada, sexo masculino, etnia (raça negra), predisposição genética por história familiar de AVC, e fatores de risco modificáveis que podemos e devemos alterar para diminuir esse risco.”
Neste último grupo, como nos explica o neurologista, estão a hipertensão, a diabetes mellitus, a dislipidemia (excesso de colesterol LDL – o colesterol “mau” e triglicerídeos e baixo HDL – o colesterol “bom”), o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, a obesidade e o sedentarismo.
Assim, João Martins deixa-nos um pequeno guia de controlo destes fatores: primeiro, para os controlar, há que os identificar, pelo que devemos recorrer periodicamente ao médico de família para avaliar e controlar a pressão arterial e serem efetuadas análises de despiste da diabetes e dislipidemia. Depois, “é muito importante cumprir criteriosamente a medicação prescrita, sem falhas. O tabaco é absolutamente proibido. O álcool é protetor em pequenas quantidades (um copo de vinho por dia), mas já aumenta o risco de AVC se consumido em quantidades excessivas.”
Além disso, devemos naturalmente adotar uma série de outras medidas de vida saudável, a nível de hábitos alimentares e prática de exercício físico: “dieta pobre em sal e gorduras, optando pela chamada ‘dieta mediterrânica’, manter um plano regular, ligeiro a moderado, de exercício físico aeróbio, por exemplo fazer uma caminhada de 30 minutos, em passo célere, todos os dias. Com estas medidas devemos conseguir também manter um peso saudável.”
Vários tipos de AVC, implicam vários tipos de sequelas:
Em termos genéricos, há dois tipos de AVC, como faz notar a Associação AVC na sua informação ao público. O mais comum é o isquémico, que acontece quando um coágulo bloqueia a artéria que leva o sangue para o cérebro, podendo ser provocado por uma trombose cerebral (quando o coágulo se forma numa artéria principal em direção ao cérebro), por uma embolia cerebral, (quando coágulo se forma num vaso sanguíneo em alguma parte do corpo e é levado na corrente sanguínea para o cérebro) ou ainda por um bloqueio nos pequenos vasos sanguíneos da parte mais profunda do cérebro.
O segundo tipo de AVC, menos frequente, é o hemorrágico, ou seja, quando um vaso sanguíneo rebenta, causando um derrame no cérebro.
Quanto a prognósticos, João Martins, explica-nos que não é possível estabelecê-los apenas com base no tipo de AVC: “os prognósticos são muito variáveis dependendo de múltiplos fatores: do tipo, localização e tamanho do AVC; do tempo de instalação do défice até ao início do tratamento específico; da causa do AVC – se não for identificada ou tratada pode levar a novo AVC; da alteração do estilo de vida e outros fatores de risco modificáveis; do início precoce e qualidade da reabilitação física; e da própria motivação do doente para essa recuperação”, refere.
Há ainda um terceiro tipo, popularmente designado por Mini-AVC, cuja designação é ataque isquémico transitório (AIT) e que acontece quando o fornecimento de sangue para o cérebro é interrompido por um curto período de tempo, tendo sintomas muito semelhantes a um ACV que são transitórios, desaparecendo por completo até 24 horas. Como é feito então o diagnóstico diferencial entre um AVC e AIT numa urgência hospitalar? Fernando Pita, explica-nos que o AIT “só o é depois de o ser, ou seja, quando o doente recupera do défice sem intervenção terapêutica.
Na entrada da urgência só é possível estabelecer o diagnóstico de AIT se o doente tiver recuperado.” No entanto, podendo a recuperação ocorrer até às 24 horas, e sendo esse período de tempo muito para lá da janela terapêutica das 4 hora e meia, se o doente à entrada no serviço de urgência apresenta um quadro de défice neurológico, a equipa não pode aguardar. “Pela nova definição, seria necessário também realizar a todos os doentes uma ressonância magnética à entrada, o que não é exequível. No entanto, não trombolisamos doentes em rápida melhoria do quadro deficitário”, explica o especialista.
Depois da entrada no hospital, do tratamento adequado, e das primeiras horas de angústia, começa, para o doente e para a família, um outro caminho mais longo: a perceção da extensão das sequelas que podem ir de nenhuma a moderadas, até muito incapacitantes.
As sequelas que ficam estão relacionadas com a extensão da lesão, mas também com área cerebral afetada. Algumas vezes é difícil antecipar o que acontecerá apenas com base em imagens de TAC ou ressonância magnética, noutras é relativamente previsível, dependendo das áreas cerebrais, perceber quais são as prováveis implicações.
A localização da lesão é muito importante, por vezes mais até do que a própria extensão da mesma. Por exemplo, podemos ter uma lesão com 5 centímetros de diâmetro na região frontopolar sem originar nenhum défice motor ou sensitivo, mas pelo contrário, uma lesão com 5 milímetros no tronco cerebral pode originar uma hemiplegia [paralisia da metade esquerda ou direita do corpo] grave.
Embora nem sempre seja linear, existem algumas áreas cuja lesão causa disfunções previsíveis: lesões na área de Broca estão associadas a dificuldades expressivas da linguagem; na área de Wernicke, dificuldades da compreensão verbal; na área frontal motora, a parésia dos membros e/ou face do lado contrário; na área sensitiva parietal, que causa alterações sensitivas nos membros e/ou face do lado contrário, entre muitas outras, nas quais a topografia e a respetiva sintomatologia são já bem conhecidas.
Assim, remata o neurologista, dependendo da gravidade da lesão, algumas sequelas podem ser permanentes, mas outras podem recuperáveis, sobretudo se os doentes forem submetidos a um bom plano de reabilitação física.
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