O que é a Esclerose múltipla

Saiba tudo sobre Esclerose múltipla: corpo sem controlo!

A doença surge, frequentemente, entre os 20 e os 40 anos. Se nalguns casos “não se vê”, noutros é bem visível a incapacidade de quem sofre de esclerose múltipla. O MSN Saúde e Bem-Estar foi saber mais sobre esta patologia que afeta o sistema nervoso central.

À primeira vista a esclerose múltipla é uma doença assustadora. Atinge pessoas no auge da juventude, afeta a motricidade, não tem cura definitiva e transforma o dia-a-dia do doente numa verdadeira montanha-russa. No entanto, apesar do cenário ameaçador e incapacitante é possível reduzir os sintomas e manter a qualidade de vida.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune, inflamatória e degenerativa que afeta o sistema nervoso central, constituído pelo cérebro e pela espinal medula. O seu nome deve-se ao facto de poderem ser afetadas duas ou mais áreas do cérebro e da espinal medula e, também, porque a doença leva à formação de esclerose (lesões cicatriciais) nas áreas danificadas. Aqui a lesada é a mielina, a substância branca que envolve as fibras nervosas – os axónios – e que não funciona corretamente nas pessoas que sofrem desta patologia.

O cérebro comanda tudo o que acontece no nosso corpo. Mas é a mielina que permite à informação viajar a uma velocidade vertiginosa ao longo do sistema nervoso. Só assim conseguimos, por exemplo, mexer os dedos ou piscar um olho quase no mesmo momento em que pensamos fazê-lo. Como nos explica a neurologista Lívia Sousa, “a mielina tem uma dupla função: de proteção das células nervosas, tal como o isolante de cabos elétricos, e também de acelerar a condução nervosa”.

Quando se sofre de esclerose múltipla, a substância branca e, por vezes, os axónios são lesados. Numa primeira fase, surgem focos de inflamação que dão origem ao chamado processo de desmielinização (diminuição de mielina) e à reparação parcial desta substância. Posteriormente, com o tempo, assiste-se à diminuição e/ou perda progressiva da estrutura e função da mielina. A degradação desta substância causa dificuldades na passagem da informação através das fibras nervosas, impedindo uma adequada comunicação entre cérebro e corpo. Nos casos mais sérios, pode ocorrer mesmo um bloqueio dessa informação e a destruição de fibras nervosas causa a perda permanente de diversas funções, dependendo das áreas afetadas.

Apesar do que já se sabe sobre a sua origem, a esclerose múltipla permanece uma doença misteriosa, tanto para os doentes como para médicos e investigadores. Não se conhece ao certo o que leva ao seu aparecimento, mas sabe-se que se trata de uma doença inflamatória, na qual uma desregulação do sistema imunitário o faz “atacar” o sistema nervoso. Conhecido também é o facto de fatores genéticos e ambientais, como determinados vírus, poderem estar envolvidos na sua origem.

A esclerose múltipla atinge cerca de cinco mil portugueses e cerca de 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo. Como dissemos, são sobretudo jovens adultos em idade ativa, entre os 20 e os 40 anos de idade, embora a doença possa surgir em qualquer idade. De acordo com a neurologista, responsável pela consulta de esclerose múltipla nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), a patologia “é mais frequente nas mulheres do que nos homens, numa frequência de 2 para 1. A raça branca é mais afetada que a raça negra e esta mais do que a asiática”.

 

Conheça os sintomas da esclerose múltipla!

A evolução da esclerose múltipla é variável, dependendo da gravidade da inflamação e do ritmo dos agravamentos dos surtos. Os sintomas mudam de paciente para paciente, e cada um deles pode, também, confrontar-se com diferentes sinais ao longo das várias fases da doença. Muitas vezes os surtos são constituídos por sintomas que vêm e vão, sem que os doentes e os clínicos tenham a real perceção dos mesmos. Nas fases iniciais da doença assiste-se, por regra, à recuperação parcial ou mesmo total após surto.

Com o desenvolvimento da patologia há funções que vão sendo afetadas – a visão, o equilíbrio, a locomoção e a sensibilidade são as mais prejudicadas – levando, consequentemente, à diminuição da autonomia e qualidade de vida dos doentes.

Perder o controlo do corpo é, de facto, a característica externa mais evidente da esclerose múltipla. O doente pode, por exemplo, sentir um tremor na mão ao tentar agarrar objetos pequenos, como uma caneta, e começar a caminhar como se estivesse embriagado.

“A falta de força em um ou mais membros, as dificuldades da coordenação ou do equilíbrio, a sensação de choque elétrico à flexão do pescoço e as alterações da sensibilidade descritas como queimar ou arranhar são sintomas de esclerose múltipla frequentes, revela Lívia Sousa. São ainda comuns alterações na memória, visão dupla, fadiga, perturbações da bexiga e dos intestinos – devido à dificuldade em controlar os respetivos músculos – e problemas a nível sexual, tanto para os homens como para as mulheres. Em casos muito graves, a esclerose múltipla pode causar mesmo paralisia e perda completa de visão.

 

Travar a doença esclerose múltipla o quanto antes!

O diagnóstico da doença não é tarefa fácil. Por um lado, porque os sintomas variam muito de doente para doente e, por outro, porque são comuns a outras patologias. No entanto, quanto mais cedo for diagnosticado, mais depressa se iniciará o tratamento e travará a evolução do problema. Muitas vezes, o médico descobre o que se passa através da história do doente, do quadro de sintomas, do exame físico mas, sobretudo, de exames clínicos.

Por norma, o neurologista começa por solicitar uma ressonância magnética, seguindo-se o teste de potenciais evocados – pequenos elétrodos presos ao couro cabeludo ajudam a medir as reações do doente a diferentes tipos de estímulos – e “outros exames complementares de diagnóstico, como estudos do sangue e do líquido cefalorraquidiano através da punção lombar”, explica Lívia Sousa. Nalgumas situações, é necessário submeter o doente a mais análises, para descartar outros problemas, como lúpus ou a doença de Lyme, “já que o diagnóstico pressupõe a exclusão de outras causas capazes de produzir um quadro clinico semelhante”, adianta a neurologista.

O diagnóstico de esclerose múltipla pode ser um choque para o doente, sobretudo se se conhecer as potenciais consequências da doença. Por isso, a primeira regra a ter em conta é não entrar em pânico! Apesar de crónica, a esclerose múltipla tem tratamento. Através da medicação adequada, é possível retardar a progressão da doença, reduzir a frequência e a gravidade dos surtos e controlar os seus sintomas.

sintomas de esclerose múltipla

Cabe ao médico avaliar qual será o melhor tratamento para cada caso. Entre os medicamentos mais utilizados para o tratamento dos surtos incluem-se os corticosteroides, devido à sua capacidade para combater a inflamação. Para o tratamento da doença utilizam-se geralmente os interferões e o acetato de glatirâmero, que reduzem o risco de ocorrência de surtos de esclerose múltipla, atenuando igualmente a sua gravidade e os danos por eles causados. Nas formas mais graves, o médico pode prescrever fármacos de outra natureza, mais potentes, mas que obrigam a uma vigilância mais apertada.

Fale abertamente com o seu neurologista e cumpra rigorosamente o tratamento prescrito e as orientações clínicas. Paralelamente, e com o agravar dos sintomas, os especialistas aconselham também a realização de fisioterapia, que, ao diminuir a tensão muscular, pode devolver alguma independência aos doentes.

Aceitação da doença esclerose múltipla leva tempo!

Aceitar o diagnóstico pode ser a fase mais difícil da doença. Impotência, desespero, temor, apreensão com o futuro são alguns dos sentimentos iniciais com que o doente se depara quando recebe a notícia. Como nos diz Jorge Ascenção, psicólogo responsável pelo serviço de Psicologia Clínica da delegação do Porto da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), “o caráter duradouro da doença, os prognósticos associados, a experiência e conhecimentos de cada um sobre doenças crónicas e/ou esclerose múltipla, bem como as relações estabelecidas com os médicos e técnicos de saúde, entre outros fatores, testam, numa tempestade de emoções, as defesas da pessoa com esclerose múltipla”.

Depois da descoberta, a pessoa passa por várias fases de gestão do problema. “Em alguns casos, pode não existir um ‘virar de costas’ ao diagnóstico recente, mas uma falta de entrega, em que se cumpre ‘as tarefas fornecidas’ sem destino e sem sentido”, explica o psicólogo.

Choque, negação, revolta, depressão e integração são as etapas, geralmente, percorridas no processo de aceitação do diagnóstico. E como nos diz Jorge Ascenção, é perfeitamente natural que, em algum momento da sua vida, o doente necessite do acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra especialistas em esclerose múltipla “para a discussão saudável das suas perguntas interiores”.

Com o tempo, acabará por aprender a lidar com a doença e as suas manifestações, realizando coisas de que ainda é capaz e descobrindo novas capacidades. Este é um processo que requer esforço e tempo, não só da sua parte, mas de todos os que o rodeiam (companheiro/a, filhos ou outros membros da família). Pode ser difícil lidar com a esclerose múltipla, mas é possível levar uma vida independente e digna, sobretudo se a doença for diagnosticada numa fase inicial.

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