Sol: amigo ou inimigo da saúde?
É sabido que a exposição solar exagerada é prejudicial para a nossa saúde. No entanto, na dose certa e com os cuidados adequados, apanhar os tão reconfortantes raios de sol tem inúmeros benefícios para a nossa saúde e bem-estar. Saiba como aproveitá-los.
Nesta época do ano, temos tendência a querer andar na rua. É bom sentir o sol na pele. Com a chegada do verão, praias, piscinas, esplanadas e jardins enchem-se de uma multidão ávida de sol. Contudo, há que tratá-lo com alguma cerimónia para que não venha a transformar-se num poderoso inimigo.
A luz solar afeta-nos a todos de forma diferente, dependendo de onde e quando estamos ao sol e de como a pele de cada pessoa reage. Para aproveitar ao máximo os benefícios do sol é importante perceber o que é a luz solar e de que forma esta afeta a pele. No fim de contas, apesar de ter efeitos benéficos, a exposição solar também pode provocar danos na nossa pele e na nossa saúde em geral.
De acordo com Inês Lobo, dermatologista, a energia do sol chega-nos através de três tipos de radiação: a radiação infravermelha, a radiação visível (luz) e a conhecida radiação ultravioleta (UV). Enquanto a primeira é responsável pela geração de calor e assegura as condições de temperatura necessárias à vida, a segunda – relativamente inócua – é imprescindível para o funcionamento dos órgãos da visão e para a promoção da fotossíntese. Já a radiação ultravioleta é responsável pelo aparecimento das doenças cutâneas causadas pela exposição ao sol. E é com esta última que temos de nos preocupar.
Quando o Sol se torna perigoso…
A exposição solar em excesso e sem alguns cuidados coloca em risco a pele. Nuno Menezes, dermatologista, revela-nos que “os principais efeitos nefastos do sol relacionam-se com a sua capacidade de induzir queimaduras solares, promover o envelhecimento cutâneo precoce e acima de tudo o seu potencial oncogénico (capacidade de provocar cancros de pele). Cada queimadura solar duplica o risco para o aparecimento de melanoma”. E o cancro cutâneo é, de facto, um dos piores perigos da radiação.
As células da pele têm memória, o que significa que os danos cutâneos são cumulativos. Não adianta abusar do sol durante a juventude e decidir cuidar-se melhor mais tarde. Os estragos causados pela exposição solar excessiva, quer seja na infância ou adolescência, poderão manifestar-se após vários anos.
“A exposição a radiação solar cumulativa (diária) aumenta o risco de tumores de pele como carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. Já a exposição solar intermitente (férias 1 a 2 vezes por ano com exposição solar muito acentuada), constitui fator de risco para a ocorrência de melanoma cutâneo, sendo esta a forma mais grave de tumor cutâneo”, alerta Inês Lobo.
Por isso, a exposição solar exige certos cuidados fundamentais, como não sair de casa sem proteger a sua pele com um protetor solar com índice adequado e evitar a exposição ao sol entre as 12h e as 17h, o período em que os raios ultravioleta são mais intensos.
Mas existem também outros malefícios que advêm do sol. É o caso de algumas doenças que, embora não sejam causadas pela exposição solar, são agravadas quando o doente está exposto à radiação UV. De acordo com os dermatologistas, entre elas encontram-se doenças imunológicas como o lúpus eritematoso sistémico, doenças cutâneas inflamatórias – como rosácea e algumas formas de acne, doenças infeciosas – como o herpes simples – e doenças genéticas raras – como o xeroderma pigmentosa e as porfirias.
Portanto, as pessoas que sofrem destas doenças devem ter cuidados redobrados. Para além disso, “a sua exposição solar deve ser desaconselhada de forma sistemática pelos profissionais de saúde e a recomendação para uso de fotoprotetor solar deve ser obrigatória”, realça Nuno Menezes.
… e num aliado da saúde
Apesar dos perigos que o excesso de sol pode causar, o astro-rei é fundamental à vida e benéfico para a nossa saúde. Vamos ver porque o sol pode ser um aliado?
Todos já ouvimos falar na vitamina D e de como é vital para o nosso sistema imunitário e para o desenvolvimento dos ossos e dos dentes. Inês Lobo diz-nos que “a exposição solar promove a síntese da vitamina D, prevenindo o raquitismo e a osteoporose”, mas para que esta vitamina possa ser produzida – e para que possamos assegurar o fornecimento da dose necessária para o organismo -, precisamos do sol. A vitamina D também está presente em vários alimentos, mas em concentrações mais baixas, não compensando a quantidade que a nossa pele produz através da luz solar.
E esta vitamina é muito importante no nosso organismo. Sabe-se que promove a absorção de cálcio, essencial para o desenvolvimento normal dos ossos e músculos, colabora com o funcionamento do cérebro e com a secreção de insulina no pâncreas, existindo estudos e provas científicas que a relacionam com um risco menor de desenvolver cancro, esclerose múltipla, hipertensão, diabetes e outras doenças. De acordo com algumas investigações, entre cinco a dez minutos de exposição solar diários, antes das 12h e depois das 17h, são suficientes para sintetizar a vitamina D necessária ao organismo.
Para além disso, a luz solar é importante para regular as nossas funções corporais e os nossos padrões de sono. Ativa o metabolismo, estimula a circulação e é benéfica para o nosso sistema imunitário. Segundo Nuno Menezes, “a exposição solar moderada tem a capacidade de diminuir as toxinas e de estimular os glóbulos brancos, tendo por isso uma ação de fortalecimento do sistema imune. A maior produção de vitamina D também leva ao aparecimento de maior número de células T na pele e, portanto, a uma melhoria do sistema imune”.
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