Dieta do Paleolítico: o regresso às origens

Será que para sermos magros e saudáveis precisamos de voltar a comer como os nossos antepassados da idade da pedra? Inspirada nos hábitos alimentares dos homens das cavernas, a dieta do paleolítico assume-se como uma boa opção para emagrecer, controlar a diabetes e viver com mais saúde.

Mais uma moda extravagante ou uma ideia com fundamentação científica? A verdade é que já todos estamos cansados de ouvir falar em dietas que prometem resolver todos os nossos problemas. Mas, com a dieta do Paleolítico, a situação é ligeiramente diferente, uma vez que, apesar de não reunir consenso, existe uma base científica que a sustenta.

Dieta do Paleolítico

A sua premissa é simples: comer como os nossos antepassados de há 333 gerações. Os defensores desta dieta não estão a dizer para se tornar numa espécie de Fred Flinstone moderno e passar a caçar para ter o que comer, mas defendem que seria boa ideia voltar ao passado e recuperar alguns dos bons hábitos alimentares e estilo de vida desses tempos. Porquê? Porque, segundo dizem, a dieta do Paleolítico é a alimentação para a qual a nossa espécie está geneticamente adaptada.

Os princípios fundamentais deste regime alimentar assentam na ingestão de carne, peixe, marisco, ovos, legumes e fruta, na quantidade que desejar. Fora do menu ficam todos os alimentos que não fizeram parte da nossa alimentação durante o Paleolítico, como cereais, leguminosas, produtos lácteos, óleos vegetais refinados, batata (incluindo batata-doce), açúcar, sal e, claro, os alimentos processados. Ou seja, uma alimentação rica em proteínas, moderada em gordura, pobre em hidratos de carbono, com baixo teor de sal, rica em fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes é o que promete a dieta do Paleolítico, também conhecida por paleodieta.

A nutricionista Ana Sofia Guerra explica-nos que “esta dieta diferencia-se das outras porque baseia-se muito no consumo de proteínas de origem animal (carne, peixe e ovos), muita fruta e legumes, e nenhum tipo de cereais. Há outras dietas que têm esta base, mas não são tão ‘radicais’: nesta dieta há a exclusão total de leguminosas e cereais”.

No entanto, é exatamente essa exclusão que faz dela o regime adequado para as pessoas com doença celíaca, ou seja, intolerância ao glúten, visto que o cereal rei da alimentação humana – o trigo – é totalmente proibido. O mesmo se passa com quem é intolerante à lactose. De acordo com a nutricionista, “esta dieta pode ser adotada por qualquer tipo de pessoas, especialmente as que sofrem de obesidade, distúrbios gastrointestinais (enfartamento, flatulência, prisão de ventre), doenças autoimunes ou neoplasias”.

 

Os pilares da paleodieta:

– Deve ser consumida uma maior quantidade de proteínas animais do que a recomendada noutras dietas, principalmente, carne magra, vísceras, peixe, marisco e aves

– Não se pode consumir hidratos de carbono provenientes de cereais, batatas, açúcares refinados e laticínios.

– É essencial consumir muita fibra proveniente de fruta e verduras que não sejam ricas em hidratos de carbono.

– É recomendada a ingestão de uma quantidade moderada de gorduras, quer monoinsaturadas quer polinsaturadas.

– O consumo de alimentos com elevado teor de potássio e pobres em sódio é fundamental.

– Os alimentos ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes são essenciais nesta dieta.

– O sal deve ser eliminado da alimentação. Para dar sabor à refeição, pode substituí-lo por umas gotas de limão.

Do Paleolítico à atualidade…

Há mais de 10 mil anos – na era do Paleolítico –, a agricultura ainda não existia, o fogo ainda não tinha sido descoberto e o ser humano estava dependente do que a terra espontaneamente lhe oferecia. No entanto, daí para cá não só os hábitos alimentares mudaram radicalmente, como foram introduzidas novas substâncias na alimentação, como corantes, conservantes, aditivos alimentares e organismos geneticamente modificados. Todas estas alterações trouxeram consequências para a nossa saúde e esperança média de vida, deixando-nos frente a frente com aquilo a que os especialistas consideram uma verdade inquestionável: comemos de mais e pior do que no passado. E é por essa razão que ficamos obesos e doentes.

Loren Cordain, professor de Ciências da Saúde e do Desporto da Universidade do Colorado e considerado o maior especialista da dieta do Paleolítico, explica no livro com o mesmo nome da dieta que, na verdade, a fisiologia humana básica mudou muito pouco em 40 mil anos e, por isso, as nossas necessidades alimentares são iguais às dos povos do Paleolítico. De acordo com o especialista, as enzimas digestivas podem demorar entre cinco mil a 10 mil anos para se desenvolverem em resposta ao contacto repetido com um novo alimento.

É por essa razão que a falta de enzimas adequadas para metabolizar os alimentos que integram a alimentação atual pode ser, em parte, responsável pelo surgimento de algumas doenças, como por exemplo, a obesidade e a diabetes. Mas não deitemos toda a responsabilidade na alimentação. Se as doenças são, por um lado, as respostas do corpo ao excesso de hidratos de carbono, açúcar e alimentos processados, por outro, são também consequência do sedentarismo do Homem.

Obviamente, como Ana Sofia Guerra constata, não podemos reproduzir na perfeição os alimentos que os nossos antepassados consumiam, pois muitos deles já não existem, ou não estão disponíveis comercialmente, ou não são saborosos pelos padrões dos gostos contemporâneos. “O desenvolvimento da agricultura permitiu a seleção de espécies vegetais que melhor se adequam ao meio ambiente atual e que têm melhor aspeto à mesa. A domesticação de animais para consumo também sofreu algumas alterações: os animais passaram a ter uma alimentação mais rica em rações e nem sempre estão em pastagens, o que provoca uma alteração na composição da sua gordura corporal”, reconhece.

Comer como na Idade da Pedra será bom?

Para além da dieta do paleolítico resultar, na maioria dos casos, numa maior perda de peso e diminuição do diâmetro da cintura em relação a outras dietas, os efeitos para a saúde também são promissores, reduzindo o risco de doenças crónicas que surgiram com a evolução.

Loren Cordain tem desenvolvido uma vasta investigação sobre os efeitos da paleodieta na prevenção de diversas patologias, como por exemplo, a diabetes, obesidade, doenças coronárias e cancro, e afirma que, além de esta ser uma alimentação bastante saudável, “os ensaios clínicos têm demonstrado que a dieta do Paleolítico é a dieta ideal, que pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares, de pressão arterial, marcadores de inflamação, ajuda na perda de peso, a reduzir o acne, a promover a saúde e no desempenho atlético”.

Mas como acontece com outras dietas ou regimes alimentares, a comunidade científica não é consensual a seu respeito, insurgindo-se vozes a favor e contra. Além de desconstruir a pirâmide alimentar tradicional, “muitos nutricionistas afirmam que esta dieta é muito ‘monótona’ em termos de diversidade de alimentos [não contém quatro dos sete grupos da Roda dos Alimentos (laticínios, leguminosas, cereais, legumes)] e que, por exemplo, a carência em laticínios pode causar um défice em cálcio e, posteriormente, osteoporose”, realça Ana Sofia Guerra. O que fazer então para prevenir ou compensar esta situação? Deve ingerir grandes quantidades de fruta e vegetais de forma a suprimir as suas necessidades de cálcio e ajudar a equilibrar o organismo.

Outras das desvantagens atribuídas a esta dieta passam pela falta de energia que a carência de hidratos de carbono pode eventualmente causar e pelo facto de não estar adaptada à vida moderna, pois, apesar da prática de exercício físico, o homem moderno não gasta tanta energia como o que viveu na era do Paleolítico.

Apesar destes argumentos, a dieta do Paleolítico pode ser adaptada às características de cada um, sem radicalismos extremos. Até porque ao olhar para a História dos nossos antepassados, os estudiosos do tema descobriram que não existe apenas uma dieta do Paleolítico mas várias, pois a alimentação das pessoas variava consoante a região em que se encontravam e os recursos que ela lhes oferecia.

Como este tipo de dieta requer uma grande mudança no estilo de vida, Ana Sofia Guerra considera fundamental ponderar muito bem a escolha que vai fazer e salienta a importância de “consultar um nutricionista para receber uma orientação mais personalizada e evitar carências alimentares que possam comprometer a sua saúde a médio/longo prazo”. E tendo em conta que a prática de exercício físico é parte essencial de um estilo de vida saudável, também deverá ser contemplada por quem adota esta dieta.

Fontes:
– Ana Sofia Guerra, nutricionista
– “A Dieta do Paleolítico”, de Loren Cordain, Lua de Papel

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