O que é a hipnose e para que serve.

A hipnose continua nos dias de hoje a ser vista como uma espécie de prática esotérica entre o arsenal das técnicas terapêuticas comportamentais.

Conheça os benefícios que a hipnose pode oferecer!

Tabaco, stress, problemas de adicção, alergias, insónias e fobias são alguns bons exemplos de problemas para os quais os especialistas afirmam que a solução pode estar no hipnotismo.

“A hipnose pretende levar o indivíduo a um estado de tal relaxamento que lhe permite abstrair-se da sua condição física. Como tal, pode dizer-se que nos faculta um acesso privilegiado ao inconsciente”, começa por nos dizer Carlos Anastácio, naturopata, diplomado pela Universidade de Londres em hipnoterapia e responsável pela clínica Homeo’s.

Quebrando mitos do que dizem os romances acerca da hipnose a que temos sido habituados, o especialista evidencia os aspectos que considera fundamentais na sua utilidade como prática terapêutica: “O indivíduo fica como que dominado por uma espécie de super-concentração. Sabe que tem um problema e a terapia visa precisamente ajudar a consciencializá-lo, aproveitando a oportunidade que lhe é oferecida na sessão de hipnose. Este objectivo é facilmente exequível através do estado hipnótico“, sustenta.

Durante a sessão de hipnose, corpo e mente encontram-se num estado de profundo relaxamento. Pode dizer-se que é uma altura em que o subconsciente assimila mais facilmente as sugestões induzidas. Os especialistas da área, também conhecidos como hipnoterapeutas, acreditam que este é um meio privilegiado para proporcionar ao indivíduo um acesso aos pensamentos e sentimentos que, no passado, acabaram por suscitar os chamados quadros de referência, que estão na origem dos chamados comportamentos repetitivos, ao longo da vida.

Génese da terapêutica da Hipnose

O hipnotismo, como técnica terapêutica propriamente dita, foi descoberto e praticado, pela primeira vez, pelo médico austríaco Franz Mesmer, em meados do século XVIII. Esta técnica, inicialmente, foi baptizada por mesmerismo. Mais tarde, a técnica receberia o nome hipnotismo, em homenagem ao Deus grego do sono, Hypnos.

Posteriormente, começou a despertar o interesse de muitos membros proeminentes da comunidade médica do século XIX, altura em que o médico parisiense Charcot fez publicamente as primeiras demonstrações, com bastante entusiasmo quanto às aplicações futuras possíveis para a técnica.

Sigmund Freud, o chamado pai da psicanálise, foi outro dos académicos que utilizou a hipnose no tratamento dos seus primeiros doentes com sintomas de histeria, mesmo antes de aperfeiçoar a psicanálise e estabelecer os conteúdos filosóficos que a caracterizam. Actualmente, o hipnotismo continua a despertar muita curiosidade popular. Contudo, a sua utilização tem-se tornado cada vez mais restrita. Nos dias que correm, psicanalistas e psicoterapeutas praticamente já não utilizam o método, pelo menos de uma maneira generalizada.

Características da hipnose

Basicamente, a hipnose é um estado de consciência alterada, semelhante ao transe, que se caracteriza pela entrada em estado de sugestibililidade, induzido pelo terapeuta. O hipnotizado pode entrar numa espécie de área semiconsciente, através desta técnica que aproveita a tendência inata do doente para a sugestão. O estado hipnótico foi, até há algum tempo atrás, considerado uma forma de sono. Porém, o traçado do EEG (registo eléctrico da actividade das ondas cerebrais) de uma pessoa hipnotizada não é sobreponível, ou seja, não se ajusta aos padrões normais do sono.

Ao contrário do que muita gente pensa, a hipnose é uma prática extremamente relaxante. Neste estado, a atenção torna-se extremamente selectiva, de modo que só é ouvida uma pessoa de cada vez. O que se passa, durante a sessão, as ordens a que obedecem, os actos que praticam, geralmente ficam esquecidos depois de a pessoa ter acordado.

Na base de toda a análise comportamental, está a chamada re-acção que, em psicologia, se traduz na, já referida, espécie de repetição do comportamento que teve origem no trauma por um determinado acontecimento que, defende Carlos Anastácio: “Poderá ter tido origem em algum episódio da infância do indivíduo, mais concretamente no período até aos 12 anos”.

A terapêutica hipnótica é uma espécie de muleta, que permitirá que a pessoa tenha acesso a essa informação, de modo a saber, posteriormente, lidar com ela. Por isso se compreende que os hipnoterapeutas geralmente não façam mais do que duas sessões de hipnose. Recordando o velho ditado “não dês o peixe, ensina a pescar”, aqui, dá-se o conhecimento e entendimento da causa para, a partir daí, se saber lidar com o seu efeito.

“Nada está errado, o que está certo é o que a pessoa quer”, diz-nos o terapeuta. Este pensamento sistematiza uma filosofia que advoga que os sintomas das patologias são apenas sinais exteriores. A causa e a doença está na mente. Esta perspectiva de abordar a doença, radicalmente diferente do que acontece nas escolas de medicina clássicas, não se limita a tratar sintomas. Procura as causas, tenta resolver conflitos. Para Carlos Anastásio, “a patologia é um sintoma físico da culpabilidade de uma pessoa, da existência de um conflito“, conclui.

Contudo, não se pode dizer que este trabalho possa substituir a psicoterapia, já que consiste, sobretudo, numa espécie de introspecção profunda em que a pessoa procura e aprende a usar os seus próprios meios de auto-cura. Todo este processo pode ter uma aproximação mais rápida ou mais lenta, dependendo das fobias.

Também há determinadas regras que devem ser rigorosamente observadas de modo a viabilizar o processo. Por exemplo, não se tratam pessoas sob efeitos de medicamentos cuja acção resulte em inibições de determinados aspectos da personalidade. Por outro lado, a falta de vontade expressa do terapizado pode ser outro grande entrave ao sucesso de uma cura.

hipnose

 

Quatro perguntas e respostas sobre Hipnose:

Quais as diferenças entre a hipnoterapia e hipnose clássica?

Convém distinguir que a hipnose é um estado conseguido pela sugestão, e que a hipnoterapia é uma terapia realizada nesse mesmo estado. De qualquer forma, a técnica hipnótica foi deixando de ter um carácter rígido tal como o de ser utilizada só com pacientes sugestionáveis.
O mais correcto será falarmos de técnicas hipnóticas, porque há várias, e perspectivamos qual a técnica hipnótica, ou a indução hipnótica, mais indicada para os diferentes tipos de personalidades dos pacientes.

Para que tipo de indicações é adequada?

Não existem regras muito definidas e os resultados ou são inexistentes ou contraditórios. Por exemplo, poder-se-ia pensar que, em casos de esquizofrenia paranóide, como é difícil induzir a hipnose devido a fantasmas de controlo, tal não seria possível. No entanto, hoje em dia sabe-se que um dos aspectos mais significativos de qualquer terapia diz respeito ao rapport, ou seja, à relação terapêutica entre paciente e terapeuta.

A hipnose é difícil de ser induzida em qualquer pessoa em que não exista essa relação caracterizada por uma confiança e expectativa na terapia, no terapeuta e no próprio paciente e pela sua compreensão. É possível, em casos de psicose, utilizar-se a contribuição da hipnose para que se construa uma organização de vida mental do paciente.

Por vezes, tal só se consegue passado algum tempo de crescimento da relação terapêutica. Podemos considerar que a hipnose, à partida, pode ser utilizada para qualquer dificuldade do foro mental, em casos de nosologias depressivas, neuróticas ou psicóticas. Por vezes pode ser utilizada de forma mais focal e dirigida a sintomatologias tais como comportamentos aditivos, disfunções sexuais e fobias.

Deve ser acompanhada por outros métodos ou é incompatível?

A hipnose, só por si, não é uma terapia. Estar num estado alterado de consciência, como em hipnose, o mais que pode proporcionar é uma sensação de relaxamento ou ansiedade. Por exemplo, em psicanálise (que não é baseada na hipnose), por vezes os pacientes podem entrar numa espécie de estado hipnóidal (hipnose ligeira). Mas isso não chega para se fazer qualquer trabalho terapêutico.

Alguns clínicos deram-se conta de que podiam potenciar a hipnose e utilizar técnicas assentes num quadro psicanalítico, o que geralmente se designa hipnoanálise. O mesmo ocorre com outras técnicas cognitivo-comportamentais, fenomonológicas e muitas outras. O estado hipnótico pode catalizar a mudança terapêutica quando se insere dentro de todo um quadro terapêutico definido. Mais do que uma terapia, é um coadjuvante terapêutico.

A hipnose pode ser considerada agressiva?

Tudo pode ser considerado agressivo se desrespeita a integridade da pessoa, ou se é realizado em contextos e situações desadequados. Como regra, a hipnoterapia é utilizada por um psicoterapeuta com formação adequada, com o acordo do paciente e informação detalhada sobre as bases de funcionamento da técnica, com pequenos ensaios hipnoidais.

Desta forma não podemos falar de agressão. Obviamente que, como qualquer técnica terapêutica que incide na dor mental, no sofrimento humano, pode ocasionar transitoriamente, e geralmente ocasiona, fases de aumento da ansiedade ou depressividade. Às vezes mitifica-se ou esoteriza-se a hipnose como um estado que permite regredir o paciente ao passado ou proporcionar-lhe atingir o inconsciente.

Com base nestas assunções e sem qualquer referencial terapêutico questiona-se o paciente, dão-se instruções pós-hipnóticas que em última análise e em casos extremos podem perturbar mais os sujeitos. Como refere um amigo psicanalista e distinto professor “o paciente leva para casa a sua neurose mais a do terapeuta”. A agressividade tem mais a ver com deontologia do técnico do que com a própria técnica.

o que é a hipnose

 

Métodos de indução na Hipnose

Os métodos de indução são muito diversificados. Além disso cada técnico pode desenvolver o seu próprio esquema indutivo. De qualquer forma, poderíamos referir que podem ser utilizadas estimulações sonora (exemplo do metrónomo) ou visual (fixação do olhar num determinado ponto, ou nos próprios olhos do técnico). Todos os métodos incluem sugestões verbais, as quais podem ser mais ou menos directivas. As sugestões mais directivas (espécie de ordens de indução) geralmente possibilitam a entrada em hipnose de forma mais rápida.

Por vezes, quando se trata de crianças, utilizam-se sugestões mais lúdicas podendo recorrer-se a imagens do seu imaginário tal como personagens televisivos, desenhos animados ou utilização de brinquedos. Em Havana, Grenet Cordovés e Martínez Perigod, há cerca de 10 anos, desenvolveram um método curioso em que intervêm dois técnicos. As sugestões são enunciadas por vezes em simultâneo. Os princípios teóricos subjacentes a esta técnica das duas vozes são algo complexos mas podemos dizer que se relacionam com a facilitação da aliança a uma das vozes (um dos terapeutas) por parte de um paciente com grandes resistências.

Para se fazer qualquer indução existe a necessidade do paciente colaborar (a ideia do hipnotizador dirigindo o paciente e este sem qualquer tipo de autocontrolo é uma ideia ficcional). Por vezes surgem medos, simulações de estado hipnótico, ansiedade antecipatória exagerada e outros que constituem as resistências. Por exemplo, num paciente muito resistente normalmente, mesmo depois de desmitificados quaisquer receios, não devem ser utilizados métodos muito directivos.

Fonte: José M. Paz, Psicólogo Clínico, docente da Universidade Lusófona

Agora já conhece alguns segredos da hipnose, o que é e para que serve!

Atualizado a:

você pode gostar também