Alimento visto por um especialista em nutrição: os grelos

A palavra grelos é usada para designar o rebento de uma planta cuja aparência é constituída por talo, folhas e flores no seu extremo. Os grelos podem ser de couve-portuguesa (Brassica napus var napus) ou de couve-nabo (tradicionalmente conhecidos como Espigos; Brassica oleracea var costata).

Não se conhece muito bem a sua origem, mas alguns cientistas afirmam que as couves já eram cultivadas no período Neolítico e que o consumo dos grelos possa ter começado nessa altura. Os grelos estão disponíveis durante todo o ano, atingindo o seu melhor durante os meses de inverno (de dezembro a fevereiro). As regiões de maior produção deste legume são: Ribatejo, Trás-os-Montes e Alto Douro, Beira Litoral e Alentejo, sendo que a terra-mãe do grelo de nabo pertence ao concelho de Mira.

No que toca às suas propriedades nutricionais (e de acordo com um estudo realizado na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança), a sua riqueza varia entre os espigos e os grelos. Os espigos (da couve-nabo) possuem mais betacaroteno e vitamina C, enquanto que os grelos (de couve-portuguesa) possuem mais antioxidantes. Em comum têm a vantagem de serem muito pouco calóricos e de terem muita água na sua constituição, podendo ser usados em vários tipos de dietas.

Têm surgido muitos estudos acerca das propriedades curativas dos grelos e a sua aplicação na prevenção ou tratamento em pacientes com cancro, principalmente em casos de cancro da mama e dos intestinos. O facto de terem uma boa percentagem de antioxidantes (betacaroteno e bioflavonoides) e de glucosinolatos tem demonstrado a sua eficácia na proteção das células contra o stress oxidativo e a ativação de enzimas que desintoxicam o fígado. O melhor método de preservação destes compostos durante a cozedura é cozinhá-los a vapor, pois os glucosinolatos são compostos hidrossolúveis e perdem-se durante a cozedura em água.

Outra propriedade importante dos grelos é a quantidade de fibras presente (cerca de 2,3g por 100g de grelos de couve-portuguesa cozida). Este facto confere uma ação laxativa e inflamatória relevante para indivíduos que possuam distúrbios intestinais como a prisão de ventre ou “intestino preguiçoso”.

Um outro dado a ter em atenção é a quantidade de cálcio presente nos grelos de couve-portuguesa que varia entre as 131mg na couve cozida e 147mg na couve crua. Quando comparado com a quantidade de cálcio presente no leite de vaca UHT meio-gordo (112mg por 100ml de leite), pode-se afirmar que os grelos são uma excelente alternativa para quem tenha intolerância à lactose ou quem procure uma fonte de cálcio alternativa ao leite (dados recolhidos da Tabela da Composição de Alimentos, elaborada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge).

Antes de comprar os grelos tenha em atenção alguns aspectos visuais: as folhas devem ter um ar fresco, bem verdes, talo firme e a ausência de flor no extremo do talo. Se não as utilizar na altura da compra, guarde-as na gaveta do frigorífico para que preserve algumas das suas vitaminas.

Quanto à sua utilização na culinária, os grelos podem ser consumidos de diversas maneiras: cozidos em pouca água (pode-se aproveitar esse caldo para fazer uma sopa), cozidos a vapor (reduz a perda de vitaminas e outros compostos importantes), salteados com um pouco de azeite e alho ou em sumo (se se juntar um vegetal mais doce como a beterraba ou a cenoura reduz o seu sabor amargo).

Curiosidades relativas aos grelos:

– Só são comestíveis quando estão tenros, porque assim que a flor desabrocha tornam-se mais duros e já não se conseguem comer (mesmo se forem cozidos mais tempo);

– O sumo de grelos é um excelente purificador e depurador do fígado e pode ser consumido todas as manhãs durante quatro semanas.

– Os indivíduos com colite (inflamação intestinal) devem consumir grelos em quantidades reduzidas, pois podem estimular as contrações intestinais e aumentar a probabilidade de diarreia.

Fonte: Ana Guerra, Nutricionista

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