Intuição, a inteligência do inconsciente

Sem esforço, sem gasto de recursos mentais e sem análise, ali está a resposta para o problema ou a previsão do que vai acontecer seguir – eis o que nos oferece a intuição. E vale a pena ouvi-la.

Nem sempre é fácil de explicar. Mas existe, é poderosa e nós podemos e devemos aprender a aceitá-la e usá-la. Não estamos a falar de premonição (a capacidade de adivinhar o futuro – e ainda mais difícil de explicar), mas da intuição, uma capacidade que, nos últimos anos, tem sido sobejamente estudada e em parte explicada pela comunidade científica.

A experiência e a comparação de padrões estão na base da maior parte dos fenómenos intuitivos que sentimos. E a explicação é bastante simples. De tudo o que vemos, fazemos, sentimos, ouvimos, em suma, de tudo o que nos chega a cada momento através dos cinco sentidos – uma dose gigantesca de informação – selecionamos o que nos parece mais relevante para processar racionalmente, já que é impossível analisar tudo. Os dados que não são processados, a maioria, ficam guardados algures, embora sem ‘tratamento’ por parte do nosso lado analítico e racional. Mas, por vezes, o inconsciente ‘fala’ connosco, por exemplo, quando temos a sensação de que alguma coisa não está bem ou quando sentimos que já sabemos o que vai acontecer a seguir.

intuição

E o fato de não sabermos explicar a sensação ou saber de onde vêm não diminui em nada a importância dela – trata-se apenas de admitir aquilo que qualquer neurocientista já assume: que há muito sobre o funcionamento do cérebro que não sabemos, sobretudo se estivermos a falar dos mecanismos inconscientes.

É isto que torna possíveis histórias como as que David Books conta no seu livro The Social Animal, de soldados habituados a missões no Afeganistão que chegaram a um ponto em que, ao olhar para uma rua, são capazes de prever com uma incrível precisão se há ou não uma bomba. Ou a dos bombeiros estudados por Gary Klein, (Sources of Power: How People Make Decisions) que mandam evacuar um edifício momentos antes de ele ruir porque sentem que alguma coisa não está bem. Ou ainda vários estudos que demonstram que os pediatras mais experientes, num primeiro contacto com as crianças numa urgência hospitalar conseguem prever  – apenas com um olhar e sem exames de diagnóstico – se a situação é ou não potencialmente grave.

E todos estes profissionais, quando questionados sobre como souberam dão a  mesma resposta: “Não sei, apenas soube.” Treino, milhares de horas de observação e prática, biliões de informação sobre o assunto que já nos chegou, eis a resposta. O cérebro deteta patrões e trata de nos avisar sobre eles, mesmo que não tenhamos tempo de os racionalizar.

Mas isto não acontece só com especialistas, acontece na nossa vida de todos os dias com as coisas com quais estamos mais familiarizados: olhar para alguém que conhecemos e saber o que está sentir, prever no trabalho que alguma coisa vai correr mal ou prever uma manobra perigosa de outro condutor. Naturalmente que também muitas vezes falhamos e somos engados por este padrão por que da mesma forma que o cérebro reconhece padrões corretos, também pode encaixar num padrão alguma coisa que não é, mas parece. Mas isto faz apenas parte de não sermos infalíveis porque, na verdade, a nossa racionalidade nem sempre nos leva a decisões certas.

A intuição não tem nada de sobrenatural ou misterioso, é antes uma forma de captar informações sem recorrer ao raciocínio e à lógica. Mas nem por isso se opõe à razão: não é há toa que, num estudo recente, 82 entre 93 vencedores do Prémio Nobel apontaram para o papel importante desta capacidade nas descobertas humanas.

Com o desenvolvimento das teorias da inteligência baseadas em emoções, a intuição ganhou poder e um lugar na vida de todos. O que fazer em relação a ela quando a sente? Ouça-a porque talvez valha a pena agir em conformidade.

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