Como reagir aos caprichos das crianças

Os caprichos das crianças são cada dia mais comuns. É caprichoso, está sempre a pedir qualquer coisa, recusa-se a dizer bom dia, nunca quer ir para a cama… Enfim, criar uma criança pode dar, de facto, muito trabalho! Para contrariar estes e outros pequenos caprichos com suavidade, siga os conselhos da nossa especialista.

«Cada vez que levo o meu filho às compras, põe-se aos gritos enquanto não lhe dou aquilo que ele quer. Como estou pouco disponível para ele durante a semana, custa-me muito vê-lo chorar. Resultado: faço-lhe as vontades todas».

Quem o afirma é Madalena, mãe de um traquinas de quatro anos. Na verdade, existirá alguma mãe que nunca tenha enfrentado os caprichos de um filho?… Fúrias, choros, amuos, birras… Como reagir?

Deve castigá-lo? Devem estabelecer–se limites? E como detectar o que ele procura exprimir com estas atitudes? Aqui ficam algumas respostas.

À noite não quer ir para a cama

Porquê ?
O seu filho pode eventualmente fazer parte do grupo das crianças ansiosas com pânico da solidão. Pode acontecer também que sinta ciúmes do tempo que os pais passam juntos sem ele. É um sentimento frequente entre os três e os seis anos e a tendência é para monopolizar as atenções do progenitor do sexo oposto.

Como reagir?
Tente envolver a criança nas suas actividades diárias, preparando, por exemplo, diante dela, ou com a sua colaboração, se tiver mais de quatro anos, a roupa que ela irá vestir. Descreva de modo entusiástico as actividades que a esperam no dia seguinte, assim ela compreenderá que, depois de uma boa noite de sono, irá ter um novo dia. Não há criança que não goste de ouvir uma história antes de adormecer, é um ritual que a tranquiliza, mas não deixe que a situação se arraste. Se tem o hábito de se deitar ao seu lado até ela adormecer, arrisca-se a dar-lhe a sensação de que pode monopolizar a sua atenção em detrimento do outro progenitor.

• Não come nada

Porquê?
Quando diz «não», a criança pode ter encontrado, logo nos primeiros meses de vida, um modo eficaz de contrariar a mãe ou o pai. Mais tarde, entre os três e os seis anos, atravessa frequentemente um período difícil,no que se refere ao paladar. Às vezes só quer comer arroz, outras, só massa… Mas não há razão para pânico, esta atitude exclusivista é temporária.

Como reagir?
Se puder, tente variar a cor e os desenhos das massas e ofereça-lhe outras fontes de amido (hidrato de carbono complexo) de que a criança vai com certeza gostar, como arroz, ou batatas, desde que n‹o sejam fritas. O objectivo é alargar o universo alimentar. Se ela se recusar a provar pratos novos, não lhe negue, por isso, a sobremesa. Essa pequena chantagem só a pode incitar a manipular os pais através da alimentação. Tranquilize-se, saiba que a criança pode alimentar-se de massas e de arroz todos os dias sem perturbar o seu equilíbrio alimentar. Desde que tenha um pequeno-almoço equilibrado (lacticínios, cereais, fruta ) e que não a deixe passar o dia a petiscar outras coisas…

• No supermercado pede sempre coisas

Porquê?
Brinquedos, guloseimas, canetas, jogos, tudo serve na hora de pedir. Nas grandes superfícies as tentações abundam, apresentando-se como verdadeiras grutas de Ali Babá para as crianças. E quanto mais pequena for, mais acha que tem direito a tudo. Por isso, põe-nos à prova e, se cedemos uma vez, é certo e sabido que as exigências vão continuar.

Como reagir?
Antes de sair de casa, explique-lhe que desta vez vai fazer compras para a casa e não para ele. No supermercado, leve-o a participar – peça-lhe que a ajude a pôr os produtos no carrinho e agradeça-lhe essa ajuda. Se na secção de brinquedos ele insistir em levar qualquer coisa, lembre-lhe calmamente, mas com firmeza, o que foi combinado de início. Se você hesitar, está a reforçar a agressividade da criança e as suas exigências. Ela deita-se para o chão?… Não se preo-cupe. Uma palmada no rabo é um bom método de mostrar que ultrapassou os limites.

• Recusa-se a dizer «bom dia»

Porquê?
Talvez o seu filho seja tímido. Ou então está na fase de dizer «não» a tudo, o que acontece com frequência entre os 18 meses e os dois, três anos. Pode ainda acontecer que diga «bom dia» à sua maneira: sorri e mostra os sapatos novos. As crianças muito pequeninas têm às vezes regras de conduta muito originais. A delicadeza é uma aprendizagem, é preciso dar–lhes tempo…

Como reagir?
Tenha o cuidado de dizer sempre «bom dia» ao seu filho: «digo-te bom dia porque fico feliz quando te vejo». Se ele não quiser dar-lhe um beijo, ou a outra pessoa, não fique contrariada, já que é aos pais que compete dar o exemplo. Pode também arranjar um código, uma palavrinha que lhe diz ao ouvido sempre que lhe dá os bons-dias. Será uma espécie de segredo entre vós. O essencial é não querer manobrá-lo e ter o cuidado de o felicitar sempre que ele desempenhar com êxito as suas tarefas.

• Quer tudo o que o irmão (ou a irmã) tem

Porquê?
A inveja e o ciúme entre irmãos são inevitáveis, sobretudo, quando têm pouca diferença de idades. Todos querem ser os mais amados e os mais mimados pelos pais. Quanto melhor se compreender este sentimento e se admitir como natural, tanto mais fácil será orientá-lo.

Como reagir?
Não intervenha à menor briga, arrisca-se a dar razão a quem a não tem. O limite deve ser impedir que se magoem. Não os eduque de um modo uniforme: a mesma roupa, as mesmas actividades… Há que reconhecer a individualidade de cada um. Não receie as críticas de um deles porque fez uma compra para o outro. Ele terá de aceitar essa frustração que faz parte da aprendizagem da vida em sociedade. Para a próxima será a vez dele!

3 PERGUNTAS a Maria Estrela Correia, Psicóloga:

Todas as crianças têm birras?

Todas as crianças, raparigas ou rapazes, têm desejos e exigências, que nem sempre estão em harmonia com a vontade dos pais. E ainda bem. A criança tem, com efeito, necessidade de confrontação para construir a sua personalidade. É claro que a noção de birra é sempre muito subjectiva, depende do limite de tolerância dos pais. Contudo, não se deve ser demasiado condescendente.
Uma criança a quem se fazem todas as vontades torna-se cada vez mais exigente, intolerante e até mesmo violenta.

A atitude da criança não esconderá males mais profundos?

Os pais devem estar atentos para poderem conseguir distinguir um grande desgosto de uma simples birra. Uma fúria pode encobrir um mal-estar verdadeiro. Uma criança que entra para a escola, ou que parte em férias pela primeira vez sem a família, pode sentir a angústia da separação. Os pais devem, por isso, tranquilizá-la.

A partir de que idade são menos dados a birras?

Geralmente pelos seis, sete anos, quando iniciam a prática do raciocínio e do conhecimento intelectual e começam também a desenvolver relações sociais. Nesta idade já interiorizaram as regras familiares, estando em melhores condições para aceitar a realidade. Em suma, mais razoáveis.

Erros a evitar:

Não grite mais alto do que ela. Você deve ser um modelo para a criança!
Não a trate com dureza. Há risco de se sentir mal-amada e de sofrer de um imenso sentimento de culpa. A repetir-se, essa aspereza irá deixar marcas de ansiedade.
Não o humilhe. O perigo, neste caso, seria o desenvolvimento de um verdadeiro sentimento de inferioridade.

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