Como aumentar a auto-estima infantil

Auto-estima infantil e a sua importância

O que é a auto-estima infantil?

A maior parte dos psicólogos modernos considera que a auto-estima infantil é a configuração organizada da sua própria imagem, que as crianças vão identificando a partir da percepção das suas capacidades ou das suas limitações. Esta configuração facilita, ou dificulta, o modo de se conduzirem face aos demais.

A auto-estima é para a criança o seu retrato consciente, a sua autenticidade, o modo como se considera a si mesma, o que espera de si e da sua capacidade; é o seu cartão de identidade interior.

David Ausubel considera que a auto-estima na criança é o resultado da combinação de três elementos:

  • o seu aspecto físico,
  • as imagens sensoriais e
  • as recordações pessoais.

Estes componentes deveriam guiar os pais e professores para ajudarem as crianças a aceitar o seu aspecto físico e melhorar a sua aparência; para lhes darem melhores oportunidades para crescer e gozar de boa saúde, melhorar a sua alimentação e repouso, e ajudá-las a não se preocuparem tanto com o tamanho das suas orelhas ou do seu nariz, ou com a cor da sua pele. A beleza é um conceito muito relativo e a auto-imagem pode formar-se melhor através de comentários positivos do que olhando-se ao espelho.

Também são importantes as experiências sensoriais, sociais e afectivas geradas por recordações pessoais de satisfação, bem–estar, êxito e felicidade. Muitos autores constataram que a auto-estima adequada na infância desempenha um papel decisivo no bem estar psicológico posterior. As pessoas que tiveram uma infância feliz, não importando a sua origem étnica ou social, costumam ser optimistas, dinâmicas e triunfadoras.

Carl Rogers, cuja contribuição para a psicologia actual tem sido enorme, identifica estas características básicas da auto-estima:

  • é consciente;
  • é uma estrutura organizada;
  • contém percepções, valores e ideais;
  • é uma hipótese provisional que a pessoa formula acerca da sua realidade, não da realidade.

Precisamente, quando Roger diz que a auto-estima é consciente refere-se a que todas as pessoas, desde a sua infância e ao longo da vida, vão tomando consciência, nem sempre acertada, das suas próprias atitudes, qualidades e do grau de aprovação social que recebe. Também constata os seus fracassos, desilusões, incapacidades e limitações. Estas percepções constituem um crédito ou um débito na conta pessoal do indivíduo face à sociedade.

Tal acumulação de experiências, juntamente com os ideais e valores adquiridos através da educação, incorporam-se à personalidade do indivíduo até formar uma estrutura organizada que lhe permite actuar com maiores ou menores garantias, e alcançar um ou outro grau de bem-estar interior.

Deste modo forma-se uma “hipótese”, sempre provisiória e melhorável da própria realidade individual. É, portanto, de suma importância que as crianças adquiram uma imagem pessoal positiva e estimulante.

Também devemos recordar que a auto-estima infantil derivada do autoconhecimento (autoconsciência) é o único atributo exclusivo do ser humano, e distingue-o dos demais seres biológicos, os quais desenvolvem as suas diferentes condutas sobre a base de instintos, condicionamentos genéticos ou tendências automáticas de ataque ou defesa.

Como se forma a auto-estima?

A experiência da criança em busca da sua própria identidade começa desde que nasce e aumenta com o seu lento desenvolvimento, sob o efeito do ambiente que a rodeia, pelas lições que os pais lhe dão nas pequenas actividades quotidianas, pelos carinhos e cuidados com que a cercam os tios, avós e amigos. Deste modo se constrói esta maravilhosa cadeia que permite o desenvolvimento e o crescimento da criança até chegar ao seu autoconhecimento e a uma maturação plena.

É certo que quando falamos de desenvolvimento, não nos referimos apenas à parte biológica mas também à psicológica, à social, à moral e à espiritual.

Desde a altura de lactente, e especialmente através da interacção com a mãe, o pequenito vai adquirindo a consciência de si mesmo. Esta percepção contribuirá significativamente para formar uma personalidade única e inigualável.

Numa primeira etapa a criança vê-se a ela própria como o centro do universo. Este egocentrismo aparece por uma tendência inata de subsistência. O pequenito é inocente, é débil, não se basta a si mesmo e é o objecto do cuidado e mimo de todos. Contudo, à medida que cresce, os seus pais, os seus professores, os seus amiguinhos ir-lhe-ão ensinando que não irá desfrutar sozinho de tudo o que é seu, pelo que deve aprender a partilhar, a brincar com os outros, a comer com os outros.

Na convivência humana a companhia, a colaboração, o respeito e a solidariedade são ingredientes básicos para que qualquer relação venha a ter êxito. Assim, o pequenito terá de aprender uma série de autocontrolos se quiser desfrutar a felicidade da vida com os outros, respeitar e ser respeitado, amar e ser amado.

E, com o passar do tempo, a criança irá saindo da “cova do seu eu” egocêntrico para adaptar paulatinamente o conceito de si mesmo em relação com os demais. Deste modo irá afirmando a sua auto-estima e adquirindo um autoconceito equilibrado e harmonioso.

A auto-estima é uma experiência que reside no interior do nosso ser; não é o que os outros pensam de mim ou crêem que posso ser, mas está radicada na própria convicção do que eu sou capaz. É como o meu auto-retrato, que em alguns aspectos está relacionado com os conceitos que os outros têm de mim, mas que em muitos outros é diferente.

Pode ser que tenhamos conhecido algum menino ou menina convencidos que são muito maus. Talvez os pais ou até os professores lhe tenham recordado que não são assim tão maus, que são normais, como a maioria das outras crianças. Apesar de tudo, responderam: “Não é verdade, eu sou muito mau…”

Quanto mais natural, equilibrada, sã e rica for a nossa auto-estima, mais prazer experimentaremos de ser e viver a nossa própria natureza biológica, psicológica e social. Será um prazer relacionarmo–nos com os outros. Esta é a grande tarefa da educação da criança em busca da sua identidade pessoal.

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Importância dos pais na formação da auto-estima da criança

Entre os agentes de maior influência sobre a auto-estima das crianças estão os pais. Nas suas mãos têm a responsabilidade e o poder de ir formando nos seus filhos esse claro e equilibrado conceito de si mesmos, evitando que adquiram traços indesejáveis na sua personalidade.

As criancinhas vão desenvolvendo e afirmando a sua auto-estima, em boa medida, a partir das atitudes dos pais e adultos, das quais podem nutrir-se positivamente, através de um tipo de educação que os faça dignos de confiança e apreço por si mesmos.

Os amigos e colegas de escola também colaboram na formação da auto-estima das outras crianças. Na verdade, as crianças comparam-se umas com as outras continuamente na realização das suas tarefas.

Quando uma criança percebe que os seus progressos são inferiores aos da maioria, vai formando um fraco conceito de si mesma. Se esta ideia de incompetência se vê, além disso, reforçada pelo professor, a família ou os seus próprios companheiros (que costumam ser directos nas suas expressões e, por vezes, cruéis), o conceito de si mesmo sucumbe até níveis ínfimos, os quais incapacitam o indivíduo de levar a cabo as tarefas mais simples.

Este efeito pode ser contraposto com êxito pela família. Os pais que desejem um autoconceito saudável para os seus filhos devem amá-los, respeitá-los, incentivá-los e valorizar o que realizam com trabalho e esforço. Isto conduzi-los-á a terem fé e segurança em si mesmos.

A tarefa dos pais no que respeita à auto-estima da criança

Os especialistas e estudiosos do comportamento infantil e adolescente consideram que as percepções e sentimentos associados ao autoconceito começam muito cedo na infância.

Aos 3 anos – ou inclusivamente antes, segundo muitos especialistas – as crianças começam a ter consciência do apreço de si mesmas. Ao princípio esta percepção é global e sintética, mas até aos 8 anos, aproximadamente, torna-se mais crítica.

O tom afectivo dos pais num ambiente cordial, acolhedor e seguro constitui o melhor alimento para nutrir a auto-estima. Quando faltam estes contactos de apreço e valorização, as crianças sentem-se estranhas, diminuídas e começam a manifestar sintomas de complexos ou sentimentos de inferioridade. No quadro-secção “O Papel dos Pais” propomos uma série de regras para que os pais não caiam em alguns erros típicos que afectam terrivelmente o desenvolvimento da auto-estima.

Quando os pais não têm em conta este tipo de regras vão destruindo a auto-estima e formando na intimidade infantil resíduos de dor, incapacidade, temor e pouco valor. O resultado costuma ser adolescentes apáticos, rebeldes, inconformados, renegados, tímidos ou agressivos, não só com a sociedade mas consigo mesmos.

Os pais, portanto, devem assegurar-se de que as crianças sejam conscientes dos seus valores e qualidades. Também lhes devem falar do sentimento de auto-estima e de quão influente ele é no desenvolvimento da personalidade, não só deles mesmos, mas também dos seus colegas e amigos. A boa compreensão destes temas fá-los-á mais ponderados quando se lhes apresente a oportunidade de se rirem de outra criança à custa da sua incapacidade.

A auto-estima é importante mesmo antes da adolescência

Antes de chegarem à adolescência, os rapazes e as meninas devem estar bem informados de todas as mudanças que ocorrerão no seu organismo e na sua psicologia durante os próximos anos. Necessitam de saber que durante a adolescência a maioria dos rapazes e das raparigas experimentam muitos momentos em que não gostam de si mesmos em geral, especialmente do aspecto físico. Devem saber, também, que essa etapa é passageira e que depressa será possível voltar a um autoconceito normal.

Além disso, os pais devem ser francos e abertos com os seus filhos acerca dos seus próprios sentimentos de auto-estima. Um dos obstáculos para superar este problema é a crença de se ser inferior, quando comparados com aqueles que aparentam sentir-se seguros e donos das situações. Isso é um engano. Até as pessoas em situação mais elevada se sentem, por vezes, incapazes, desajeitadas e inferiores.

A confissão paterna das suas próprias inseguranças não diminuirá, em absoluto, o respeito que os filhos têm pelos pais. Pelo contrário, a relação ganhará mais profundidade e os mais jovens compreender-se-ão melhor a si mesmos, uma vez que se sobreporão aos pensamentos negativos acerca da sua pessoa.

Por último, uma característica muito importante da auto-estima é que é susceptível de ser modificada por pessoas externas ao indivíduo. A aprovação ou a crítica de alguém que a criança aprecia, fará variar o conceito que tem de si mesma. O patinho feio da literatura infantil era um pato infeliz. No entanto, tornou-se num magnífico cisne. O animal não sofreu nenhuma transformação anatómica, nem se submeteu a uma cirurgia plástica. O simples encontro com a sua família verdadeira fez com que se contemplasse de uma forma diferente. Como resultado, começou a sentir-se bonito.

Considerações finais sobre auto-estima infantil

O poder que um adulto que inspira autoridade moral à criança tem sobre o desenvolvimento da sua auto-estima, é incalculável. Daí que os pais, os professores e os adultos que têm ascendência sobre as crianças, devem ser cuidadosos na sua influência.

Como a criança não é alheia ao impacto da cultura em que vive, os adultos que a cercam devem estar atentos para os guiarem com sabedoria na formação de uma auto-estima positiva, correcta e generosa, mas não exagerada nem individualista.

Finalmente, temos de recordar que os extremos perigosos para o desenvolvimento do autoconceito infantil são tanto o abandono (despreocupação, permissividade, ausência de disciplina e complacência com todos os gostos e caprichos da criança), como a rigidez excessiva e a super-protecção.

Dr. Raúl Posse e
Dr. Juliá Melgosa
In “Para a Criança – A Arte de Saber Educar” –
Livro em fase de tradução nesta Publicadora

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