As infeções sexualmente transmissíveis não escolhem idades

Veja por que razão é importante falar de infeções sexualmente transmissíveis.

Podem ser praticamente invisíveis, manifestar-se das mais diversas formas e terem consequências violentas. Saiba mais sobre sintomas e tratamento.

Falar em cuidados quando o assunto é sexo pode não ser divertido, engraçado ou minimamente “fixe”. Sim, é certo que ninguém gosta de ser desmancha-prazeres, em particular quando o assunto é a intimidade.

Mas a sexualidade só é verdadeiramente apreciada se a saúde não for posta em causa. Ou, dito de outra maneira, existem coisas bem menos “fixes” que falar de cuidados ou usar um preservativo. Como por exemplo contrair uma doença devido a uma relação sexual.

As infeções sexualmente transmissíveis (IST) são fáceis de definir em teoria: tratam-se de infeções contagiosas cuja principal via de transmissão é a atividade sexual. Podem ser transmitidas pelo contato direto com lesões superficiais mas a atenção deve estar centrada nos principais fluídos (sangue, fluídos vaginais, esperma, secreções de feridas), que devem ser mantidos fora do corpo do parceiro.

No entanto, o que as IST significam e implicam na prática é bastante mais complexo. Para além das sequelas físicas – como por exemplo a infertilidade ou lesões que podem ser irreversíveis – também podem ser incómodas e provocar outro tipo de lesões, estas a nível psicológico.

E se é certo que em muitos casos são perfeitamente tratáveis, há situações em que um único erro já não será apenas um susto. É mesmo uma consequência para o resto da vida.

Reconhecer para prevenir

No seu site, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) adianta que “por vários motivos, o número de casos reais de IST não é conhecido”. O facto de ser uma problemática que mexe com a intimidade das pessoas e de nesta designação, de infeções sexualmente transmissíveis, caberem as mais variadas patologias ajuda a perceber por que é que é difícil termos uma ideia concreta do número de casos.

Ainda assim, para termos uma ideia mais precisa, a ginecologista Elsa Delgado explica-nos que entre as mais prevalentes entre nós encontramos infeções tão diferentes como VIH/SIDA, o vírus do papiloma humano-HPV, a gonorreia, a sífilis, a hepatite B, ou o herpes genital, entre muitas outras.

Os testes de deteção das doenças sexualmente transmissíveis são variados e geralmente não são agradáveis, mas são necessários para sabermos como está a nossa saúde sexual. Para melhor a podermos preservar.

 

Infeções sexualmente transmissíveis: sintomas e tratamento

 

Clamídia

Causada por uma bactéria, é das IST mais frequentes. Nos homens, os sintomas a ter em conta são corrimento no pénis e sensação de ardor ao urinar. Nas mulheres não há sintomas – normalmente descobrem porque o diagnóstico foi feito ao parceiro – por isso geralmente permanece desconhecida durante mais tempo.

A clamídia é uma das causas mais frequentes de infertilidade. Como mais facilmente passa despercebida, pela falta de sintomas, a infeção pode alastrar às trompas e ao útero.

Em caso de dúvida, não vale a pena adiar: deve-se consultar de imediato o médico. É necessário efetuar análises à urina e/ou fazer um exame ginecológico. O tratamento é um antibiótico.

 

Gonorreia

Causada por uma bactéria que passa através das relações sexuais, os sintomas geralmente aparecem cerca de dois a três dias depois da infeção. Nos homens, os sintomas são semelhantes à da clamídia (corrimento no pénis e ardor a urinar).

No caso das mulheres geralmente não há sintomas mas cerca de 10 por cento poderá sentir ardor. As consequências também podem ser as mesmas do que com a clamídia. Ainda em relação às mulheres, uma infeção ligeira dá 3 por cento de risco de infertilidade.

Três infeções graves e o risco passa para 75 por cento. Será necessário fazer um exame ginecológico e análises ao sangue. O tratamento é feito com antibióticos.

Sífilis

Causada por uma bactéria, no limite pode ter implicações muito graves, podendo levar mesmo à morte. Esta bactéria aloja-se nos órgãos sexuais (vagina ou pénis) e produz uma espécie de úlcera com um ligeiro corrimento que desaparece ao fim de algumas semanas. Isto, no entanto, não signficia que se esteja curado.

A bactéria continua no organismo e se não for tratado pode-se infetar o parceiro ou transmitir ao bebé durante a gravidez. Sem tratamento algum, a sífilis pode afetar o cérebro e órgãos. Em caso de suspeita deve-se contactar de imediato o médico. É necessário um exame sanguíneo e o tratamento é feito com antibióticos.

Herpes

O herpes é causado por um vírus. A maioria destes não dá origem a uma IST mas um em particular sim: o herpes genital. Há uma primeira fase, dolorosa, em que depois podem surgir vesículas ou bolhas nos órgãos sexuais (masculino e feminino), que podem até desaparecer e voltar noutra altura.

O risco de infetar um parceiro existe e não há uma cura específica, embora haja medicamentos que aliviam os sintomas. Em caso de dúvida será necessário efetuar um exame físico, análises ao sangue ou fazer um exame ginecológico.

Candidíase

Não é necessariamente uma IST porque se pode contrair candidíase sem nunca ter tido relações sexuais. Ainda assim, exige cuidados. A Candida é um fungo que pode ser debelado. Os sintomas são comichão e corrimento – independentemente do género – e merecem a devida atenção.

O médico poderá receitar um preparado para aplicar localmente. É importante também perceber se há alguma causa além das relações sexuais desprotegidas – como por exemplo uma baixa do sistema imunológico.

Esta lista podia ser mais extensa mas a principal preocupação continua a ser o VIH/SIDA. Desde os anos 80, altura em que era conotado com a homossexualidade, até aos dias de hoje – em que a informação se encarregou de ir desfazendo alguns preconceitos –, a verdade é que muita coisa já mudou para melhor mas os riscos continuam.

Mas se a consciência quanto à gravidade do VIH/SIDA já evoluiu, outras IST não tiveram direito ao mesmo tratamento. Por isso nunca é demais esclarecê-lo: há muitas outras possíveis infeções que poderão ter um impacto igualmente gravoso.

É por isso que o cuidado e a sexualidade devem continuar lado a lado, já que a melhor prevenção resume-se a “práticas sexuais responsáveis”, como enfatiza Elsa Delgado.

 

O que não podemos esquecer

Os adolescentes são habitualmente a maior preocupação quando falamos em IST. Além de a adolescência ser um período particularmente intenso, no que às mudanças diz respeito, as primeiras experiências sexuais surgem numa altura em que também acontecem outras transformações substanciais.

A autonomia vai sendo maior, a relação com os pares torna-se central e embora haja diferenças entre rapazes e raparigas – Vera Ribeiro, psicóloga clínica, recorda-nos que “as raparigas são muito mais exigentes no uso do preservativo”, nem que seja pelo receio de uma gravidez –, sabemos que são muitos os desafios que acompanham o crescimento.

A informação existe, chega até aos jovens, mas como a sexóloga Vera Ribeiro nos explica, o caminho entre saber a teoria e aplicar na prática nem sempre é simples: “este é um processo que se torna complicado visto os jovens terem muito presente a necessidade de arriscar e exceder limites e muitas dessas situações de risco são feitas de uma forma não elaborada (…) trata-se de viver aquele momento sem pensar nas consequências”.

Curiosamente, embora centremos muitas preocupações com as IST na adolescência, é possível que estejamos a descurar outras grupos. Vera Ribeiro e Elsa Delgado alertam, no entanto, para um fenómeno curioso, um que atribuem a alguns lugares comuns veiculados pelos media, e que na prática nos faz lembrar de uma velha máxima: “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.

A ginecologista Elsa Delgado explica-nos…

A ginecologista Elsa Delgado explica-nos que “para os jovens existem programas escolares, muitas vezes com o apoio de equipas de saúde, consultas de planeamento familiar de adolescentes em centros de saúde e algumas instituições hospitalares com equipas multidisciplinares disponíveis para esclarecimentos e ensinamentos nesta área”.

No entanto, acrescenta, “estes recursos para os menos jovens não são tão acessíveis, por vezes os profissionais não estão tão alertados, disponíveis e recetivos a esses esclarecimentos e se os procuram muitas vezes não lhe são tão facilmente disponibilizados ao que acresce ainda a vergonha ou o receio de serem julgados”.

No caso do preservativo masculino em particular, se o seu uso nem sempre é um automatismo para os rapazes adolescentes, no caso dos homens mais velhos a adaptação pode ser ainda mais difícil – com questões culturais, falta de hábito e alguma desinformação a contribuírem para o risco.

Simplesmente conversar

Nas últimas décadas sociedade mudou e com ela mudou também a forma como olhamos para as questões mais íntimas.

Hoje em dia tanto há adolescentes a iniciar a atividade sexual mais cedo, como encontramos casais na terceira idade que ainda desfrutam de uma vida sexual ativa, como pessoas que mantiveram o mesmo parceiro sexual anos e anos mas que a dada altura se divorciaram.

Para todos estes casos – e estão aqui como simples exemplos – haverá circunstâncias próprias mas há noções que devemos ter em qualquer circunstância.

Uma delas diz respeito à história sexual do parceiro. Não se trata aqui de ter um interrogatório extensivo ou de viver toda a sexualidade com desconfiança.

A questão é até bastante simples: independentemente de a pessoa conhecer o seu percurso sexual, a verdade é que não conhecemos a da outra pessoa. Acrescente-se a isto que por vezes podemos ser portador de uma infeção, embora nunca tenhamos sentido um sintoma que servisse de alerta.

A ginecologista Elsa Delgado explica-nos que “a prática de sexo seguro é a melhor maneira de prevenir estas infeções, e isto significa que o que se pretende é reduzir ao máximo os riscos, e decidir que riscos estamos ou não dispostos a correr”.

A sexóloga Vera Ribeiro adianta que temos assistido “a uma maior consciência e acordo de ambas as partes dos parceiros em fazer o rastreio” quando se trata de optarem por ter relações sexuais desprotegidas.

É um sinal positivo, sem dúvida, mas que também nos serve como exemplo: numa relação, a comunicação e a confiança são essenciais – e isto vai além da sexualidade propriamente dita.

Finalmente, Elsa Delgado resume-nos os essenciais a ter em conta se queremos ter uma vida sexual saudável (e feliz, acrescentamos): utilizar sempre o preservativo masculino ou feminino, não permitir que os fluídos entrem no corpo do seu parceiro(a), não ter atividade sexual se tiver sintomas de IST e, finalmente, verificar periodicamente, através de exames médicos, se se é portador de alguma IST. É um pequeno esforço extra que pode fazer a diferença.

 

Desfazer mitos sobre as Infeções Sexualmente Transmissíveis:

 

– não se apanham nas sanitas, pelas maçanetas das portas das casas de banho ou pelas toalhas;

– podem apanhar-se e não se dar por isso;

– podem apanhar-se mesmo que “não se vá até ao fim”

 

Fonte da informação:
(Mário Cordeiro, in O Grande Livro do Adolescente)

 

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